Vergonha, sai desse corpo que não te pertence

Vergonha, sai desse corpo que não te pertence

Vergonha, sai desse corpo que não te pertence

Não sinta vergonha de seu filho — que não é bem aquilo que você esperava. Não fique toda vermelha, feito uma garotinha, se ele não para no restaurante um minutinho (e não é por falta de educação). Não queira sumir do mapa se o padrão Vogue de beleza não está ali dormindo no quarto ao lado. Não sinta vergonha se seu filho faz movimentos nos braços, na cabeça, nas pernas, nos olhos de forma involuntária. Não sinta vergonha de algo que seu filho, sequer, tem controle. É, no mínimo, no mínimo, cruel. E, principalmente, não confunda deficiência com falta de caráter — isso, sim, motivo de vergonha.
Numa família, não pode haver espaço para vergonha. Não pode e ponto. Mesmo se seu filho não for o mais lindo do bairro, o bebê dos sonhos, o perfeito do pedaço, não sinta vergonha dele. Se precisar, se esforce para isso. Peça ajuda, leia livros, entre numa religião, converse com gente que te entenda, amadureça. De seu jeito, mas quer um conselho? Não dê espaço para esse sentimento, porque da vergonha para a pena é um pulo e aí, aí, danou-se. A vergonha é um detonador de bombas da autoestima do seu moleque, um atalho para a depressão (sua e do rebento), um limitador das possibilidades e uma linha reta para um bando de sentimentos ruins… Depois, haja terapia…
Você não precisa ser um ativista dos direitos das pessoas com alguma deficiência, não precisa criar um diário no Face com a rotina do seu filhote, nem abrir um Instagram com as últimas da sua criança. Nem precisa se expor além do universo do seu filho, se assim não o quiser. Nada disso. Mas não precisa ter vergonha. Nem do rebento, nem das demandas que ele vai exigir por onde passar – da casa à escola, do parque ao restaurante. Porque ele vai exigir.
Porque mesmo se você não criar um blog ou liderar os pais por inclusão na escola, você vai precisar se expor. Seja na reunião dos pais da escola ou na festinha de um colega da sala. E, com vergonha, isso não vai dar muito certo. Quem vai ajudar uma mãe que sente vergonha do próprio filho? Que escola vai incluir uma criança quando a família é a primeira a excluí-la? Que escola?
Em vez de sentir vergonha, sinta apenas amor. Só com amor, é possível orgulhar-se das conquistas, dos avanços, das vitórias. Por menores que pareçam ser. Deixe a emoção transbordar com as primeiras palavras aos quase nove anos, das primeiras letras aos 12, do vestir-se sozinho, do esforço para simplesmente viver no seu mundo. Simplesmente para receber o seu amor.
O amor é o maior antídoto contra a vergonha. Ame, sem ressalvas, e não tenha a vergonha de ser feliz.

Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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