22 jul Uma criança feliz muda o mundo!
Ainda estou profundamente emocionada por, sem sair de casa, ter voltado a encontrar os queridos María del Carmem e Etienne Moine da Fundação AMI. Conheci o trabalho dos dois em um seminário sobre Abordagem Pikler em Budapeste em 2018. AMI é um pequeno pedaço do paraíso incrustrado nas montanhas do Equador. Tive a sorte de ter vivido neste lugar mágico por uma semana em março deste ano, pouco tempo antes de ter explodido a pandemia do COVID aqui e acolá.
A primeira vez que os vi foi num filme. Lembro-me perfeitamente do impacto: a cena era de uma criança pequena usando um martelo com destreza. Isso é algo que causa, no mínimo, certa inquietação. O menino tinha não mais do que uns 4 anos. Não iria se machucar? Não seria perigoso?
A câmara se aproximou do seu rostinho e pudemos perceber sua determinação. Você consegue distinguir alguém que sabe o que quer de longe, né? Ele estava super concentrado no que estava fazendo e bastante empenhado na tarefa de fazer sumir o prego no bloco de madeira que manuseava com cuidado e atenção. Para minha surpresa, e também da plateia, as mãozinhas eram “diferentes”: não tinha todos os dedinhos. O rosto, agora em foco, também não era como os da maioria: tinha lábio leporino. Surpresa, surpresa: era uma criança com deficiência!
Mas, e daí? Daí, que ninguém na Fundação Ami nunca havia lhe dito que ela não era capaz ou não podia usar o martelo, por exemplo. Poucas vezes, vi mãos tão capazes! Fabian era poderoso com seu martelo – muito mais do que o Thor!
O que eles têm de diferente? Esta pergunta não se dirige às crianças que frequentam a Fundação Ami e que, por ventura, têm um desenvolvimento atípico. A pergunta deve ser feita às pessoas que cuidam destas crianças. O que os adultos fazem na Fundação Ami? De que forma trabalham? Como conseguem fazer emergir crianças tão seguras de si e tão potentes?
Eles partem de princípios bem simples: as crianças precisam ter suas necessidades internas satisfeitas e precisam de afeto. Lá, todas as crianças têm o direito de exercerem suas atividades autônomas, partindo de suas próprias necessidades. Isto significa que todas as suas ações são frutos de suas próprias vontades e pesquisas. Surgem de suas investigações, suas observações do ambiente, do entorno e das relações que mantém com seus cuidadores, que, com muito afeto e respeito, lhes dão a segurança para descobrirem, por si mesmos, o mundo.
Então, não se dá, por exemplo, um martelo na mão de uma criança de uma hora para outra. Essa criança já esteve em um outro ambiente junto com bebês, com sua mãe e/ou cuidadora, já experimentou diferentes objetos, com diversos pesos e tamanhos, conhece seu corpo e suas possibilidades. Ela também já viu adultos, usando o martelo para prender um avental no quintal ou consertar o balanço. A criança sempre começa uma nova exploração a partir de objetos que lhe são conhecidos. Quando ela chega no espaço da marcenaria, já viu outra criança brincar com pregos e martelo. E, ela própria vai iniciar um novo ciclo de pesquisas a partir de sua curiosidade. Pode ser que ela nunca queira brincar com o martelo, mas pode ser que, em um belo dia, ela tente e talvez goste.
Cada coisa a seu tempo. Frise-se: no tempo da criança e não do adulto. Esse é um princípio fundamental na Fundação. Aos poucos, a criança vai se lançando a novos desafios e quebrando seus novos recordes pessoais. Na Fundação Ami, os adultos zelam para que TODAS as crianças tenham o direito de serem aventureiros. Uma criança que conquista algo a partir de um desejo seu genuíno é uma criança feliz e, como dizem na Fundação e como nós, do Paratodos, acreditamos, uma criança feliz muda o mundo!
Se você também acredita nisso, fica o convite para que conheça um pouco mais o trabalho da Fundação AMI, assistindo a live de ontem no YouTube
E, se você quiser apoiar o direito de as crianças continuarem a se aventurar felizes na Fundação AMI, entre no site e faça uma doação