“Que essa cadeira nunca entre em obra”

ALICE no País das Maravilhas com seu vestido azul

“Que essa cadeira nunca entre em obra”

ParaVocê. Por Mariana Perri

Aqui em casa nunca fiz rodeios. A Alice, de 5 anos, recebe respostas sinceras para perguntas complexas. Muitas vezes não entende. Ri e me diz que não entendeu. E eu parto para explicar, parte por parte, a resposta que dei. Mas sempre com a verdade e nada mais do que a verdade.
E, assim, é com perguntas como “por que não posso ter um cavalo?” ou “por que aquela criança ali não consegue andar sem ser na cadeira?” ou mesmo “por que algumas pessoas só tem joelho?”.
Como moramos perto da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), ver crianças em cadeiras de rodas e pessoas que “só tem joelhos” é mais frequente do que se imagina, e, assim, esse tipo de pergunta é comum.
Com isso, Alice já aprendeu que ser diferente é normal! E já aprendeu que pessoas supostamente “diferentes” têm os mesmo direitos que as pessoas ditas “normais” e que devem ser tratadas com o respeito que queremos que nos seja conferido.
Nesse clima, descíamos a escada da piscina do clube, onde tem uma daquelas cadeiras elevador, para pessoas com dificuldades de locomoção. Alice olha para a cadeira (suspeito que ela tenha uma vontade louca de usá-la), e puxa a conversa.
– Ufa, tomara que essa cadeira nunca entre em obra!
– Ué, por que, filha?
– Porque se entrar em obra, vai ter que fechar a piscina do clube!
– Como assim?
– Se a cadeira entrar em obra, as pessoas que não podem subir escadas não poderiam ir à piscina. Não seria justo com elas, se todo o resto das pessoas pudesse ir à piscina e elas, não!”
E eu só pude torcer para que esse senso de igualdade de direitos se perpetue por toda a vida dela e se generalize para toda essa geração, para, quiçá, num futuro próximo, pessoas com dificuldades de locomoção tenham garantido seu direito de ir e vir.

Ciça Melo
cica.melo@paratodos.net.br


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