Tadinho do moço, mãe

Menino com capa de super-herói.

Tadinho do moço, mãe

Num desses domingos de futebol, o Botafogo ganhou do Vasco. Meu caçula estava feliz com essa vitória, que tinha um gosto especial: afinal, ele e o pai puderam festejar juntos a conquista do time. Exultante, logo cedo na manhã do dia seguinte, Vitor vestiu a camisa alvinegra e desfilou sua felicidade pelas ruas de Copacabana no caminho até o parquinho.

Imaginem um torcedor orgulhoso. Esse era o Vítor naquela manhã de segunda-feira. As pessoas que o viam lhe davam parabéns, tapinhas nas costas, sorrisos de cumplicidade. Todos menos um senhor que, vendo o menino de longe, resolveu dar aquela provocada no meu filho. Sem poder chegar muito perto, de sua cadeira de rodas quase encostada na grade de um prédio, ele faz alguma piada para o Vítor, que em retribuição lhe responde com outra brincadeira. Tipica provocação pós-jogo.
As brincadeiras duraram segundos. E, findo o dialogo, Vitor se vira para mim e diz:
– Tadinho do moço, mãe.
Meu coração gelou. Só pensava: “onde errei? Onde errei para esse menino sentir pena de uma pessoa estar numa cadeira de rodas?”. Fiquei desolada. Todo meu discurso – e minha prática – no lixo. Tadinho? Tadinho é ainda pior do que coitado. Fiquei lívida.
Por sorte, eu me segurei e, com muita naturalidade, apenas questionei o meu menino:
– Por quê?
– Porque ele é Vasco e o time dele perdeu ontem. Você não entendeu que ele é Vasco, mamãe?
– Lógico – pensei.
E, seguimos para o parquinho, felizes da vida pelo Botafogo.


* O texto foi originalmente publicado na coluna Incluir para Crescer, do site da Revista Crescer, em 23/05/2018.

 

Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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