“Somos analfabeto”

“Somos analfabeto”

Recentemente, os jornais publicaram episódios, ligados à religião, que ocorreram dentro de escolas no Rio de Janeiro. Um deles se deu no colégio Qi: numa questão feita para alunos do primeiro ano do Ensino Médio, era preciso completar lacunas. Numa delas, o verbo a ser usado era o odiar e este sentimento era relacionado a judeus. Num outro caso, dessa vez numa escola pública, a diretora proibira a entrada de um aluno que usava guias de candomblé. E, nesta semana, numa prova do Andrews, havia uma questão que comparava judeus a nazistas. Absurdos à parte, o que isto tem a ver com deficiência? Tudo. Até porque, nesse movimento, acreditamos que a aceitação da diversidade, em todas os níveis e possibilidades, é o que gera uma melhor convivência para todos.
No meio desses fatos, que nos leva a concluir que a tolerância ainda é uma utopia, conheci uma pessoa que me ensinou que precisamos “alfabetizar o nosso olhar”. Adorei esta frase! Afinal, estes eventos só acontecem porque somos analfabetos. Não convivemos com a diferença e, assim, não sabemos como lidar com ela. E há diferenças menos óbvias do que uma cicatriz, uma cadeira de rodas, cor da pele ou uma muleta. Há diferenças ideológicas, de religião ou de pura opinião.
Nesse contexto, a convivência com pessoas com alguma deficiência se torna ainda mais importante. Se aprendermos, se nos “alfabetizarmos”, se soubermos como conviver com pessoas com alguma questão, que seja diferente da nossa, também saberemos conviver com outras diferenças. Mais ou menos evidentes. Sejam elas de nacionalidades, de religião, de pensamento. Mas isso é um exercício diário, uma prática constante, uma preocupação de sempre. Somente assim aprenderemos a aceitar o outro exatamente do jeito que ele é.
Vou até além. Ouso dizer que não teremos mais eventos como ocorrido em 2001. Hoje faz exatamente 13 anos que as torres gêmeas caíram. Quantas outras torres precisarão ser derrubadas até que estejamos convencidos de que precisamos nos alfabetizar?

Ciça Melo
cica.melo@paratodos.net.br


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