Só um minutinho

Não pode estacionar. Nem por um minutinho.

Só um minutinho

Todo mundo sabe que estacionar em vagas para pessoas com deficiência, de gestante ou idoso, sem ter direito ao benefício, é errado. Não importa se a pessoa é contra ou a favor do espaço: parou na vaga exclusiva, sem ter direito para tal, corre-se o risco de levar uma multa.
Quem transgride manda a clássica justificativa de que foi por “só um minutinho”. Era, pois, um minutinho para:
– Deixar o filho na escola
– Entregar um documento
– Buscar a mulher no trabalho ou pegar o marido no aeroporto
– Encontrar com os amigos no bar
– Fazer umas comprinhas no mercado
– Resolver um problema qualquer
– Sei lá, mil coisas.
O motivo é, quase sempre, nobilíssimo. Pressa, tempo escasso, urgência – que podem ser muito bem traduzidos em falta de respeito e zero empatia. Afinal, sair mais cedo não deu, e dar uma ou mais voltas pra encontrar uma outra vaga não dá também. Pensar no outro, então? Não dá mesmo. Vale a lei do “eu quero, eu posso”. Mas só eu.
Mas isso não é novidade, muito menos exclusividade dos brasileiros. É cena pra lá de corriqueira nas grandes cidades. Tanto assim que é possível ver por aí campanhas em vários países que chamam atenção para o fato. Vídeos no YouTube ou pegadinhas na televisão estão sempre nos fazendo sorrir amarelo com uma cena pra lá de comum.
Entretanto, o que me leva a tratar deste tema aqui é que boa parte de quem transgride essa norma não são apenas homens e mulheres de todos os gêneros. Mas pais e mães, de todos os gêneros também. E em muitos desses momentos fazem isso com os filhos dentro do carro. Filhos que assistem em banco privilegiado a seu próprio veículo passando por cima de um desenho de uma cadeira de rodas.
Se filho aprende mais com exemplo do que com palavras, aí está uma lição que ele não precisava aprender. Agora, em vez disso, um filho assistir a um pai não estacionar na vaga para pessoas com deficiência, mesmo atrasado, mesmo suando, mesmo tendo que parar mais longe, seria de uma lição maravilhosa. É o discurso do respeito saindo do campo das ideias e das palavras e indo cair na prática. Cena vivida, cena apreendida.
Como pais temos responsabilidades. E uma delas é formar cidadãos melhores para podermos, enfim, viver no tão almejado mundo melhor. Mas esse mundo melhor é agora, é hoje. Ficar no discursos de Facebook e na belas fotos no Instagram não nos torna bons pais. Os juízes do tempo demoram para deliberar. Mas, acreditem, a conta chega. Muitas vezes, é coisa de só um minutinho.

* Texto originalmente publicado, em 13 de setembro de 2017, na coluna INCLUIR PARA CRESCER, do site da revista Crescer. 
Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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