Silvia P i l z…Silvia P l e e a a s e !!!

Silvia P i l z…Silvia P l e e a a s e !!!

Por Heidi Gorenstein Nigri*
Semana caótica na minha vida, resultado de várias outras semanas elaborando uma importante decisão, justamente por sopesar certos valores aos quais temos que nos voltar. Eis que, no meu último dia de trabalho na empresa, em meio ao caos da despedida, olho para o lado e vejo minha colega de trabalho chorando. Corrija-se, minha amiga, há muito deixou de ser apenas uma colega.
Estava tão compenetrada tentando finalizar minhas tarefas, que apenas olhei rapidamente para ela, vi que enxugava as lágrimas por debaixo das lentes dos óculos. Ela balbuciou de forma consternada algo que apenas entendi como… “Como pode! As pessoas escrevem cada coisa! Como pode?”…. Sem observar melhor e ainda completamente imersa no trabalho, disse, sem voltar-me para ela: “Por que você lê? Parei de ler coisas que me incomodam muito”. Bem, a vida continuou acontecendo naquele dia louco, nada mais vi, senão a mim.
No dia seguinte, alguém postou um comentário negativo sobre uma ‘crônica’ (?) de uma tal de Silvia Pilz. A Silvia. Blogueira do Jornal O Globo. A jornalista e cronista que diz o que pensa. O que pensa.
Minha amiga tem uma filha com síndrome de Down. Pude compartilhar o afogamento daquelas lágrimas.
Imediatamente um diálogo interno se construiu em torno daquele texto podre. Ora, se a Sra. Silvia escreve num jornal de grande porte expressando levianamente seus preconceitos, não há motivos para intimidar meus pensamentos aqui, certo?
Sra. Silvia, acho que me enquadro no seu padrão de conforto. Sou branca, bochechas rosas, sorriso Colgate, altura normal, advogada bem graduada, moro na zona sul, enfim, bem “normal”, aquela que passa despercebida, sabe?
Sra. Silvia, você me assusta, pessoas como você me dão medo. De verdade. E, como não sou covarde, não pretendo disfarçar meu estranhamento.
Então, você está cansada do “politicamente correto”, seria isso? Qual seria seu desejo? A liberdade de apontar para o anão e dizer: “Olha ali o anão? Credo!” Ou, quem sabe, você quer fingir não ver alguém a quem facilmente chamaria de retardado? Ou, quem sabe, você quer voltar a cantar: “Olha a nega do cabelo duro”, durante seu banho de verão? Ou, quem sabe, você gostaria de perguntar aos pais brancos, aqueles que adotaram um mini-afrodescendente da moda, se havia mais de um modelo onde eles adquiriram?
Sra. Silvia, não, não entendi o que você pensa. Você pensa?
Sequer procurei ler qualquer outra coisa que você escreveu ou escreve, por mais “legalzinha” que seja. Porque você me assusta de cara. Porque o que você tenta desabafar queixosamente sobre a “exagerada” época do “politicamente correto”, eu chamo de educação, eu chamo de ser humano. A educação que me esforço diariamente para dar ao meu filho, aos seus amigos, tratando abertamente e ESCLARECIDAMENTE de inclusão, de homofobia, de racismo, de tolerância, de ser humano, de respeitar, sim, as diferenças, as variedades, as necessidades e as capacidades individuais. Por isso, considero uma ofensa pessoal ter um jornal do porte d’ O Globo prestando um desserviço, remunerando alguém como você para deseducar meu filho, para minar meus esforços, manifestando seu preconceito descaradamente sob o cínico manto da palavra “polemizar”. Tsc Tsc Tsc.
Sra. Silvia, já que você está cansada do que é “politicamente correto”, o que se enquadra no meu conceito de educação, permita-me pegar uma carona no seu sentimento, deixando minha educação de lado para lhe mandar …. Não, não, sou covarde…
Veja, estamos todos livres para sermos “deseducados”, é uma questão de assumirmos as consequências.
É o que sempre tento ensinar e assimilar.

Heidi Gorenstein Nigri tem 40 anos, é advogada graduada pela UFRJ e tem um filho adolescente.
Editoria
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