08 ago Sem infantilização, por favor!
Na semana passada, foi veiculada reportagem sobre um caso de “levantamento de interdição” por parte de um juiz para permitir que um jovem com Síndrome de Down pudesse se casar ( (veja a matéria aqui)).
A matéria me fez recordar um episódio que aconteceu no início do ano. Lugares com muita circulação de pessoas são sempre bons termômetros para a gente sentir como anda a temperatura da cultura inclusiva.
Estava indo para uma reunião familiar fora do Rio e cruzei no aeroporto com um casal de jovens com Sindrome de Down.
Fiquei em dúvida sobre se seriam irmãos, familiares, amigos ou namorados.
Estavam na companhia de uma senhora mais velha, talvez fosse a mãe.
As fantasias começaram a me invadir. Tomara que sejam um jovem casal de namorados que vai com a mãe de um deles para uma reunião familiar, tal como eu estava indo com o meu filho para a festa de 15 anos de uma sobrinha. Viagem de família como outra qualquer!
Tomara que eles estejam exercendo plenamente a vida adulta, que envolve independência/autonomia, trabalho e sexo. Afinal, isso é o que caracteriza a saída da infância e a entrada na adolescência e na vida adulta. Espero que eles tenham conquistado este direito, espero que estudem em universidade, trabalhem ou morem sozinhos. Ou tenham planos para isto, como um casal de jovens qualquer…
Para a minha surpresa, estavam no mesmo voo que eu e meu filho. Infelizmente, estavam sentados longe da gente e não pude checar de qual das hipóteses se tratava ou se a realidade não era nenhuma das opções anteriores, como acontece em provas de múltiplas escolhas e na vida. O interessante é que, quando voltava do toalete, tive oportunidade de ver a aeromoça oferecendo lanche aos dois e pude perceber um tratamento diferente ao que é geralmente reservado aos adultos. É algo sutil, que poderia parecer uma gentileza, mas não é …
O sorriso era mais largo e o tom de voz … Ah, o tom de voz denuncia tudo. Parecia estar se dirigindo a crianças. “Você quer biscoito doce ou salgado? Ou quer os dois?”. Só faltou perguntar se queriam bala…
O rapaz respondeu com a voz firme de um adulto: “só água, por favor”. Só faltou dizer:”estou de dieta”. Deu um orgulho danado. E deu pra ver que temos ainda um longo caminho a percorrer na difusão da cultura inclusiva.