Se a vida começasse agora

Se a vida começasse agora.

Se a vida começasse agora

Nos últimos dias, passaram pelo meu Facebook centenas de fotos de adolescentes que faziam sua estreia no Rock in Rio. Todos sorridentes de estarem vivenciando este momento, por que não dizer, mágico… Pela primeira vez, estes jovens pisariam na Cidade do Rock e experimentariam viver um festival de música desta magnitude.
Entre a imensidão de fotos, duas me chamaram atenção. Na véspera da inauguração, um grupo de jovens com autismo participou do “Preview Rock in Rio” e puderam conhecer, de antemão, todas as atrações do festival. A foto não deixa dúvidas: estavam felizes por estarem ali como outros milhares de adolescentes que povoariam aquele lugar nos próximos dias. Estavam felizes de fazerem parte.

A outra foto que me emocionou foi a de um casal de amigos com seus filhos na entrada da Cidade do Rock. Até aí, sem novidades. O que torna esta foto importante é poder constatar que estes amigos puderam levar TODOS os seus filhos, um dos quais usa cadeira de rodas. Levaram TODOS – nenhum ficou para trás, vendo o show pela televisão de casa. Estavam felizes com a família completa! O fato de estarem todos juntos não deveria, por si só, me deixar particularmente feliz, mas deixou, pois sei quantas vezes tiveram que fazer verdadeiros malabarismos para que o filho com deficiência pudesse acompanhá-los nos programas familiares. Nem todos os restaurantes ou calçadas ou praias têm rampa, nem todos os banheiros são adaptados, nem todos os táxis levam cadeiras de rodas, nem todos os ônibus têm sistema que permita que se suba ou desça de cadeiras de rodas, nem todas as estações de metrô têm elevador…

O que as duas fotos retrataram me deixou feliz e esta foi uma das gratas surpresas do RIR: esta edição ficou mais acessível às pessoas com deficiência.
A acessibilidade foi pensada especificamente pela produção do evento, que contou com a assessoria de Thiago Gonçalves, que, em 2015, encontrou uma série de dificuldades para se movimentar, com sua cadeira de rodas, pela Cidade do Rock. Dois anos depois, Thiago está trabalhando como coordenador de acessibilidade do festival e a Cidade do Rock conta com carrinhos elétricos adaptados para cadeira de rodas, rampas, terreno mais plano, banheiros adequados, kits elétricos que transformam cadeiras de rodas em triciclos elétricos, sinalização em braile, piso tátil, plataformas em frente aos palcos reservadas, área com piso que vibra para o público com deficiência auditiva sentir o som e uma oficina para reparo de cadeiras de rodas. Avanços que, claro, não deixam de trazer desacertos, erros, tropeços – como também se nota com a estrutura em geral. É o mundo! Porém, sem dúvida, estamos falando de uma edição mais inclusiva.

Um Rock in Rio mais acessível dá mais sentido ao hino do próprio evento – que nos faz cantar com mais entusiasmo seus versos iniciais: “Todos numa direção/ Uma só voz, uma canção / Todos num só coração”. Agora, sim, todos.

Flavia Parente
flavia.parente@paratodos.net.br


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