Refletindo sobre o papel da escola

Refletindo sobre o papel da escola

Por Carla Jarlicht*

Dia 2 de abril foi o Dia da Conscientização do Autismo — o que nos leva a refletir sobre o verdadeiro papel da escola.

Compartilho aqui algumas reflexões baseadas na minha experiência em escola e inspiradas também nos vários textos sobre o tema escritos por pessoas com autismo que atuam nas mais diversas áreas de conhecimento. E com essas, eu tive ainda mais certeza de que a gente tem muito a fazer.

É impossível pensar em convivência ética sem pensar no respeito e a respeito de todas as diversidades existentes, quando falamos de seres humanos. E, na escola, isso se torna gritante, por isso temos a faca e o queijo na mão para desmistificar vários assuntos e avançar o tanto que precisamos nessa conversa.

Não raramente me deparei com falas de famílias preocupadas com o avanços pedagógicos da turma porque havia crianças atípicas na mesma sala de aula que seus filhos. Já ouvi também famílias apreensivas com o fato de alguns alunos realizarem avaliação com leitura de mediadores por entenderem que seus filhos, que não tinham mediação, estariam em desvantagem. Além da perplexidade diante dessas falas, atentei para o fato de que a comunidade escolar precisava entender não apenas o que é inclusão, mas o que é uma escola.

Escola não pode ser lida como o lugar de competição, de ranqueamento de alunos e alunas, como formadora de lideranças do amanhã. ISSO NÃO É ESCOLA.

Professoras/es não podem se sentir pressionados porque pensam estar “atrasados/as” com algum conteúdo porque interromperam suas aulas por algum motivo relacionado ao comportamento de alguns alunos/as. Em sala de aula, tudo é pedagógico: TUDO e, principalmente, como lidamos com situações diversas, como convivemos e colaboramos uns com os outros, porque essas são as habilidades que levamos pra vida.

Vamos, portanto, às ações:

  • É preciso trazer profissionais atípicos para colaborar com os projetos da escola, profissionais nas suas mais diferentes áreas do conhecimento. É preciso dar visibilidade e valor aos saberes dessas pessoas.
  • É preciso que o fazer pedagógico esteja embebido na ideia de que incluir todo mundo é incluir as diversidades e trabalhar com elas, a partir delas. E também entender e ter a tranquilidade de trazer para a prática cotidiana a ideia de desenho universal de aprendizagem.
  • É fundamental que todas as famílias entendam isso, portanto o posicionamento transparente e firme da escola, nesse sentido, é condição. E, certas vezes, algumas famílias não entenderão e isso pode significar, na prática, abrir mão delas, quando todas as ações para educá-las não surtirem efeito…
  • Ao falar em famílias, destaco a importância da parceria, portanto trazê-las para perto, para dentro do processo. Não estou falando só dos eventos de culminância.

Escola é o lugar de se aprender a celebrar as diversidades. É o lugar em que se aprende uns com os outros, em que se partilha talentos e fragilidades, diariamente, e todos se engrandecem com isso. Não podemos perder isso de vista.

De outro modo, qual seria a função da escola?


* Carla é psicóloga, mestre em Educação, especialista em Literatura Infantil, fundadora do Plano de Voo Educação (@planode_voo) e atua na formação de professores da rede pública de ensino do RJ.

Convidado/a
paratodos@paratodos.net.br


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