Quem vai pagar a conta?

Quem vai pagar a conta?

Quem vai pagar a conta da inclusão? Esta é uma pergunta que tem ecoado. Às vezes, de forma velada. Noutras, de forma bem aberta mesmo. Então, quer dizer que essa é a sensação: tem alguém pagando mais pelo filho do outro. É isso? Para responder a essa pergunta, eu não pretendo discorrer aqui sobre as vantagens que todos têm quando há diversidade em sala de aula. Há textos nossos e muitas pesquisas de gente boa por aí para sanar essa dúvida. Um Google resolve.
Também não vamos entrar no mérito da responsabilidade social. De um mundo em que se vive no coletivo, em que é preciso pensar no outro. Tampouco entremos na seara dos direitos — em que a educação é direito de todos e, sendo direito de todos, deve atender a qualquer um. Assim como não falemos de lei. Entretanto, nem todos pensam na educação, na lei, nos direitos. Pensam especificamente na conta, naquilo que estão pagando no início do mês para a escola. Foquemos, pois, nesse indivíduo.
Pense no seu filho. Pense no que ele faz na escola. Ele joga bola? Não? Então, vamos tirar da sua conta esta bola. Mas ele joga? É um atleta nato! Você acha que deveria pagar mais porque ele é o rei do futebol, do basquete e do queimado? E aquele pátio de cima? Se ele não usa, tire da conta a manutenção deste local e o funcionário que limpa lá. Que se organizem os pais que usam o tal pátio e rateiem o custo disso. Seu filho não tem dificuldade nos deveres de casa e nem na matéria dada em sala? Talvez pudessemos tirar da sua mensalidade a auxiliar que fica em sala para dar esse apoio, o que acha?  Ah, mas disso ele precisa… Sua menina é muito quieta e não faz bagunça? Então, uma coordenadora pelo menos. Ou ela apronta todas e, portanto, vale dar uma gorjeta para a diretora por isso? Enfermaria? Seu filho é do tipo que nunca se machucou? Vamos tirar esse profissional da salinha dos primeiros socorros? Ou, para esse fim, você está disposto a pagar? Quando sua filhota estiver com cistite, e usar mais o banheiro, da água ao papel higiênico, você vai pagar mais por isso também? Quando seu filho precisa usar o elevador porque quebrou a perna ou precisa sentar com o professor depois da aula porque não entendeu a matéria, você passa lá na secretaria e pede para pagar mais por isso? E, ao contrário, quando você olha que seu filho não usa todo o material coletivo sugerido pela escola, você vai buscar um desconto?
Falando em desconto… Não melhor, não… Porque todo mundo conhece alguém que pede desconto e nem precisa, né? E, se houvesse menos espertos, essa conta ainda seria mais justa… mas foquemos, foquemos…
O fato é que, queiramos ou não, pagamos por custos de uma comunidade. Não fazemos contas individuais, pensamos no coletivo. Então, você pode chegar ao maior ponto de discórdia: os mediadores. Neste ponto, você poderia me dizer que esse profissional (ou acompanhante terapêutica) seria de uso apenas de um aluno. Será mesmo?
Quando chegamos de São Paulo, minha filha (que não tem questão alguma) teve resistência na sua adaptação. Quem ajudou? Foi a mediadora de um menino no espectro do autismo. E não foi só a mediadora que ajudou. A criança com autismo também foi importante: desenhou com ela, conversou e, aos poucos, minha Luiza foi se adaptando na escola. Será que eu deveria ter ajudado a arcar com os custos da mediadora naquele período? Nem pense que essa história é singular. Conheço gente que adora saber do filho pelo mediador do filho do outro…
O que mais me entristece nesse mimimi é que nunca ouço quem reclame que a escola oferece reforço ou aula extra sem cobrar a mais por isso. Eu pago mediadora para o meu filho. Eu pago todas as aulas de reforço e nenhum dos meus três até hoje precisou e pode ser que terminem a escola sem precisar delas. Na minha escola tem também, sem custo extra algum, clube da matemática e encontros de ciência. Meus filhos também não participam dessas atividades e pode ser que terminem a escola sem querer participar – já que são opcionais.
Então, será que o clube de matemática ou as aulas de reforços não deveriam ser apenas das famílias que usam estes serviços? Não. Definitivamente não. Porque acredito que isto é da comunidade escolar. Que a escola precisa oferecer porque um dia um dos seus alunos pode precisar. E, mais do que isso, estamos todos no mesmo barco. Com necessidades, talentos, aptidões, dificuldades que são peculiares de cada um. Prefiro seguir pensando no grupo, pensando que quero para o meu filho uma educação que abarque a todos. Uma educação onde haja espaço para todos! Uma educação responsável social e eticamente. E, deveras respeitosa à lei e aos indivíduos.

Ciça Melo
cica.melo@paratodos.net.br


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