Professor também chora

Professor também chora.

Professor também chora

Numa das recentes palestras que o Paratodos fez numa escola, uma professora sinalizava que concordava com o que lhe era apresentado. Parecia compreender a importância de seu papel para incluir cada um de seus alunos. E se mostrava disposta a quebrar suas próprias certezas. Atenta a cada palavra, um ponto estava claro: ela precisava de ajuda. “Eu simplesmente não sei o que fazer” – desabafou.
E chorou. Chorou com uma sinceridade de quem tem a consciência da própria relevância na vida de seus alunos. Chorou como se culpasse por tantos erros do caminho. Chorou com a humildade tão intrinsecamente ligada ao saber.
Suas lágrimas – traduzidas aqui como um pedido de socorro – estão longe de secar. Infelizmente. Afinal, é dura a vida da bailarina. Especialmente quando a família joga para a escola as suas próprias responsabilidades – e isso acontece à beça por aí e não apenas com alunos em situação de inclusão. Não se surpreenda mais com um costume, assim, tão banal entre as famílias: delegar. Pode ser por medo. Pode ser por covardia. As vezes, é cansaço. Noutras, pura preguiça.
Segure o pranto, professora – ainda que o choro também seja nosso. Tem muita gente envolvida no processo de inclusão do seu aluno. Tem a escola. Tem a família. Tem os terapeutas. Tem você, que segura o rojão nas manhãs ou nas tardes de segunda a sexta. Mas você não é pouca coisa não. E, até por isso, seque as lágrimas porque inclusão não tem receita, não tem manual. Faça o que você está fazendo: prepara-se. Faça cursos, leia livros, colecione histórias de sucesso da internet, envolva-se mais e sempre. Porque os alunos estão entrando e não vão esperar que você fique mais calma. A hora é agora. E o aluno são esses que te esperam dentro de sala. Os dados foram lançados…
O desafio de incluir é mais complexo do que teoria da relatividade em mandarim arcaico. Porque envolve gente e, como se sabe, o ser humano é bicho complexo. Seu choro, no entanto, nos leva a acreditar que um aluno não passa incólume por um professor de verdade. Significa que alguém se importa. Traz a esperança da luz do túnel. Sofre. Professor também chora. Fato. Mas não desiste. (Fabiana Ribeiro).

Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


});