16 maio Por uma sala de aula mais justa
Numa sala de aula equitativa, todos aprendem. Os materiais são acessíveis a todos os alunos. Todos contribuem para o aprendizado de todos. Todos participam e interagem com aquilo que conseguem fazer. Todos têm o mesmo status. Todos, sempre todos. Mas, somente todos, se todos tiverem oportunidades para aprender. Um dos caminhos para se chegar a uma sala de aula justa é proposto pela pesquisadora Rachel A. Lotan, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, reconhecida como referência mundial em formação de professores e ensino para a equidade. Recentemente a especialista esteve no Brasil e apresentou o livro Planejando o Trabalho em Grupo – Estratégias para Salas de Aula Heterogêneas, em co-autoria com a pesquisadora Elizabeth Cohen (1932-2005).
O livro nos mostra que o professor precisa planejar, dirigir e delegar aos alunos a responsabilidade pela busca de respostas e soluções diante de problemas e adversidades. É esse o caminho para soluções criativas, que promovam a alternância de papéis entre os participantes do grupo e ainda o aumento da percepção da colaboração e da interação entre os alunos. De acordo com as autoras, um trabalho de grupo bem executado torna-se uma ferramenta para reduzir desigualdades, harmonizar diferenças e promover equidade no ensino.
A seguir, confira a entrevista que Raquel Lotan concedeu ao Paratodos.
PARATODOS: O conceito de equidade é comumente relacionado à ideia de justiça. Quando aplicado à educação, será que transmite uma ideia de sala de aula mais justa?
RACHEL LOTAN: Esses são grandes e importantes conceitos filosóficos. Então, vou focar nas salas de aula. Primeiramente, preciso dizer que salas de aulas equânimes estão numa progressão entre a menos e a mais equânime, em vez de se é ou não equânime. Como reconhecer uma sala de aula equânime quando vejo uma? 1) Todos os estudantes têm acesso de maneira equiparada ao professor, seus colegas e ao material da sala de aula. 2) Todos os estudantes têm múltiplas e variadas oportunidades para demonstrar o que sabem e o que são capazes de fazer. 3) A inteligência é definida pelo professor e pelos estudantes como gradual, flexível e multidimensional. 4) As medidas das conquistas são agregadas em torno de uma média aceitável e não distribuídas no que seria considerado uma curva normal.
PARATODOS: Quais habilidades os estudantes precisam desenvolver para trabalhar em grupos nas salas de aula equânimes?
RACHEL LOTAN: Colaboração, cooperação, fazer boas perguntas, escutar ativamente, demonstrar criatividade, organizar a si mesmo e aos outros, e muitas outras habilidades que fazem alguém ser bem sucedido no mundo real.
PARATODOS: Como fazer deste um espaço realmente democrático onde todos, e não apenas os estudantes com boas notas e nas disciplinas mais valorizadas, possam sobressair?
RACHEL LOTAN: Precisamos focar naquilo que todos os estudantes conseguem fazer ao invés do que eles não conseguem fazer. Construir em cima do conhecimento e das habilidades que eles podem ter adquirido mesmo fora da escola e da sala de aula e fazer com que isso seja relevante para as tarefas. Todos os estudantes podem contribuir porque eles têm muitas habilidades intelectuais diferentes que podem se tornar relevantes e precisam ser reconhecidas.
PARATODOS: Todos os estudantes podem aprender com esse modelo?
RACHEL LOTAN: A maioria deles. Certamente mais do que numa sala de aula tradicional.