24 ago Por que a surpresa?
Desde que fui convidada e ingressei no Paratodos, as pessoas não se cansam de perguntar: o que o seu filho tem? Não me incomodam a curiosidade dos outros ou mesmo o fato de, eventualmente, imaginarem que ele tenha alguma deficiência. Porém, me incomoda, e muito, o fato de as pessoas ficarem surpresas ao saberem que ele não tem qualquer deficiência. O que me espanta é o olhar de admiração, como se somente fosse “justificável” me engajar num movimento que visa a promover a inclusão de pessoas com deficiência, se o meu filho apresentasse essa condição.
Ora, o ativismo não pressupõe que seja exercido apenas por autodefensores. Para mim, o ativismo não deveria ser praticado somente pelas pessoas envolvidas direta ou indiretamente nas causas que defendem. Não pode haver engajamento a uma causa simplesmente porque ela é justa? E, no meu caso específico, simplesmente porque não concordo em deixar ninguém para trás … porque não aceito que não sejam oferecidas a todos iguais oportunidades de se educarem e viverem suas vidas de forma plena … porque entendo que a educação deve ser garantida a todos e não somente a alguns? Esses não são motivos suficientes para apoiar e lutar pela inclusão de todos?
Parece que, para alguns, não …
Aí, me lembrei de uma frase famosa de Martin Niemöller* que está reproduzida no Museu do Holocausto em Washington:
“Primeiro, eles vieram pelos socialistas, e eu não protestei – porque eu não era um socialista.
Então, eles vieram pelos sindicalistas, e eu não protestei – porque eu não era um sindicalista.
Então, eles vieram pelos judeus, e eu não protestei – porque eu não era um judeu.
Então, eles vieram por mim – e já não havia mais ninguém para protestar por mim”.
Não, meu filho não tem deficiência, mas, sim, eu me importo, eu fico indignada, eu protesto, eu reclamo e eu luto pela inclusão. Eu não me omito!