Pela inclusão escolar

Pela inclusão escolar.

Pela inclusão escolar

Um dos principais debates no âmbito da educação gira em torno da inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais no ambiente escolar. Muitos educadores, pais e psicólogos defendem uma escola aberta, inclusiva, que não diferencie uma criança por ela ser “diferente” das outras. Mas ainda há resistência e muitas dificuldades, e a realidade não corresponde tão bem ao discurso da inclusão. São, de fato, muitas dúvidas e, mais ainda, muitos preconceitos relacionados ao tema.
– Estamos vivendo um processo de inclusão. Um processo lento que se depara com inúmeros obstáculos: atitudinais, políticos, sociais e econômicos. Mas acredito que estejamos desenvolvendo práticas inclusivas na escola e na sociedade. Há possibilidade dessa transformação, se nos despirmos dos preconceitos ou, pelo menos, encararmos de frente o diferente – avalia a psicóloga e pedagoga Larissy Alves Cotonhoto, mestre em Psicologia Escolar e doutora e em Educação.
Larissy tem se debruçado sobre a inclusão escolar desde 2002, quando deu aula de Educação Especial no curso de Pedagogia de uma universidade em Minas Gerais. De lá pra cá, foram vários trabalhos sobre o assunto. Para ela, um dos principais desafios é preparar os professores para lidarem com crianças especiais.
– Existem muitos desafios. Em relação à escola, preocupo-me com o currículo escolar, a organização da escola e a formação dos professores. Esse último desafio o mais tenso. Nossos professores não estão sendo convidados a participar da inclusão, estão sendo obrigados a aceitar uma decisão e transformar o que sabem em práticas inclusivas. Todavia, pouco ou nada sabem sobre a inclusão, a deficiência e a diversidade.
Para que haja a verdadeira inclusão, não basta apenas garantir o acesso de portadores de necessidades especiais às escolas. Ter um lugar em sala de aula não significa estar, de fato, inserido no contexto da educação. O comprometimento de educadores e instituições de ensino é considerado fundamental para a arquiteta Carla Codeço, a jornalista Fabiana Ribeiro e a mestre em Psicologia Comportamental Ciça Melo, criadoras do movimento Paratodos.
– Acreditamos que todos podemos sempre nos preparar e que uma escola que está preparada para educar indivíduos tão diferentes, estará ainda mais preparada para educar a todos. Uma vez desenvolvendo o olhar para a individualidade estará apta a enxergar as particularidades de todos os alunos e suas formas diferentes de aprendizado e aptidões diversas. O principal obstáculo que temos encontrado é a falta de informação e o medo do desconhecido. Muitos professores nunca tiveram experiência com inclusão e, mesmo assim, não se acham preparados. Será? Muitos estão. Ao invés de ficar aguardando um manual ou receita de bolo de como educar aquele aluno com alguma questão, o professor deve se conectar com esta criança, assim como faz com todas as outras. Perceber qual o nível de desenvolvimento daquela criança e traçar um plano para ela e elaborar o material para alcançar este objetivo, assim como faz com todos os alunos – explica Carla Codeço.
O fato de as diferenças serem diferentes entre si não é visto por elas como empecilho à inclusão.
– As pessoas, de maneira geral, são todas diferentes entre si. Não há duas pessoas iguais, nem os gêmeos. Independente de os alunos terem alguma deficiência ou não. Assim, não há como o professor olhar para uma turma e pensar numa estratégia única. O ensino em massa homogêneo não é bom para ninguém. Dificulta a aprendizagem e o desenvolvimento da autonomia. É preciso olhar para cada aluno além do grupo no qual está inserido. É preciso pensar numa estratégia de ensino/aprendizagem que atenda a todos e a cada um. Uma boa estratégia é trabalhar com diferenciação em sala de aula. Consiste em dividir a turma em grupos menores para que cada aluno dentro de seu grupo possa desempenhar seu papel no grupo e garantir o aprendizado – avalia Carla.
Para Larissy, são as potencialidades de cada aluno que devem nortear o trabalho dos educadores.
– Considero importante saber e compreender sobre as diferentes necessidades educacionais de nossos alunos. Conhecer quem são, seu desenvolvimento e aprendizagem é imprescindível. Porém, mais importante ainda é conhecer suas potencialidades, ou seja, seu prognóstico. E como trabalhar a partir dele – afirma.
Apesar dos avanços necessários, a psicóloga e pedagoga considera positivos os esforços da sociedade brasileira no caminho da inclusão:
– Avalio que estamos bem em relação a outros países, como Itália e Espanha. Nossas políticas públicas têm buscado atender uma demanda crescente de alunos público alvo da Educação Especial. Precisamos encarar essa mudança como responsabilidade.
E o Paratodos tem comprovado alguns bons exemplos.
– Temos visto muitos avanços. Cada vez mais escolas procuram se informar sobre a inclusão e promover treinamento para seus educadores. Só nas duas últimas semanas, por exemplo, o Paratodos foi convocado por cinco escolas no Rio de Janeiro. Numa delas, a proposta era uma Roda de Conversa para professores da Educação Infantil e Fundamental I; entretanto, professores do Fundamental II e do Ensino Médio, ao saber do evento, demonstraram interesse e participaram também – conta Carla.

 


Textode Marta Paes publicado originalmente pelo blog Mãe Coruja

 

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