Paratodos na Crescer: Quem ensina quem?

Quem ensina quem?

Paratodos na Crescer: Quem ensina quem?

Festa aqui em casa significa meses de preparação. Assim que acaba a da Luiza em dezembro, começamos a pensar na do Lucas, em março. E, mal termina a dele, é hora de começar os preparativos para a do Daniel, em maio. Este ano, ele fez nove anos e o tema escolhido pelo aniversariante foi Hollywood.
E, não tem jeito, a família inteira se envolve. Avó faz o bolo (sempre! “É imbatível!”, “o melhor do mundo”, dizem as crianças). Uma tia, a decoração. A outra avó, as lembrancinhas – que ainda passa pelas mãos de João, um dos primos. E por aí, vai. Não fica ninguém de fora. Nesse mesmo ritmo de colaboração, a festa já começa na véspera. E, muita gente vem para arrumar.
Foi, assim, que, entre brigadeiros e pipocas, lá estávamos todos no play recortando as últimas estrelas para uma espécie de painel atrás da mesa do bolo. Foi quando eu disse: “Esta tesoura está cega!”
Daniel ouviu, pensou e perguntou: “Mãe, você acha certo dizer isto?”
Eu, apressada, respondi logo – achando que ele não tinha entendido: “É, filho, a tesoura está ruim, não está cortando nada”.
Então, ele me ensinou: “Mãe, desse jeito, parece que ser cego é algo ruim, algo que não funciona”.
A barulheira da arrumação virou silêncio. Foram segundos. Eu olhei para ele e concordei: “Você tem toda razão, não vou usar mais essa expressão”.
“É, mãe, fala que a tesoura não está cortando e pronto” – emendou ele rapidamente sem querer me deixar sem graça. Tarde demais, pois eu já estava.


 *O texto foi originalmente publicado, em 7/7/2017, na coluna INCLUIR PARA CRESCER, do site da Revista Crescer. 
Ciça Melo
cica.melo@paratodos.net.br


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