Paratodos na Crescer: “Nossos filhos incríveis”

Nossos filhos incríveis.

Paratodos na Crescer: “Nossos filhos incríveis”

Nossos filhos incríveis são inteligentes. Tíssimos, eu diria. Os boletins não nos deixam mentir. Certamente, quando há algo errado ali numa nota ou noutra, o erro é da escola – com seus métodos de ensino antigos e aulas pouco atrativas. São os gênios da matemática, futuros Machados ou Clarices, verdadeiros Di Cavancantis.

Nossos filhos incríveis são os alunos dos sonhos. Não desrespeitam o professor, nem com gestos ou com palavras. Fazem seus deveres assim que chegam da escola. Não escondem de nós os bilhetes na agenda. Estudam – com ou sem a nossa supervisão. Fazem silêncio na hora do silêncio; sentam adequadamente para assistir às aulas. Chegamos a não compreender quando, nas reuniões, recebemos queixas da turma. O problema são os outros.

Nossos filhos incríveis são os amigos que todos gostariam de ter. Não provocam ninguém. Não fazem bullying. Por vezes, sofrem bullying. Não batem, revidam, no máximo. Podemos lembrar de uma ou outra vez que a escola ligou ou chamou para relatar algo inadequado. Normal. Coisa de criança. Mas sabemos muito bem que brigar na escola, responder professor, chatear colega, nada disso é coisa de nossos filhos. E sempre desconfiamos de alguma criança que não seja tão boa influência assim para nossos rebentos. Nossos filhos não são desses. E nós estamos de olho. Sempre.

Nossos filhos incríveis são educados. Dão bom dia ao porteiro e cedem o lugar no metrô para pessoas mais velhas. Não furam fila. Jogam lixo no lixo. Sabem esperar. Aceitam os nãos da vida. Levam o prato para a pia.

Nossos filhos são antenados. E, sim, vivem no celular. Pressão do grupo, claro, pois, na certa, eles iam preferir um bom livro. Difícil não ceder. Mas não são deles os palavrões, as grosserias com amigos, os vídeos inadequados, os xingamentos, os palavrões, os áudios surpreendentes. Jamais se envolvem em boatos que podem magoar qualquer pessoa. Aliás, não se envolvem em confusões, muito menos as virtuais.

Nossos filhos incríveis fazem coisas incríveis. Tão incríveis que nem acreditamos. E, por não acreditar no que esses filhos incríveis são capazes de fazer, por vezes, deixamos de ensiná-los sobre respeito, diversidade, diferenças. Afinal, estamos sempre achando que nunca serão os nossos filhos a perseguir um colega com síndrome de Down ou uma criança com autismo. Não, não são capazes de agredir física ou verbalmente um aluno mais vulnerável, seja ele apenas mais baixo, tímido ou com algum déficit intelectual.
A verdade é que, enquanto acharmos que nossos filhos são incríveis, jamais os educaremos. Em vez disso, apenas os adoraremos.

 


* Texto originalmente publicado, em 20/07/2017, na coluna INCLUIR PARA CRESCER do site da revista Crescer
Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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