22 fev Os sentidos que nos confundem
Lá estava eu na praia de Coqueirinho, na Paraíba, ouvindo Marisa Monte e vendo de longe meus filhos brincarem com o pai. Que cena linda. Tranquila, muito tranquila. Eis que duas senhoras interrompem o meu sossego para pedir que eu olhasse as suas bolsas, já que elas queriam mergulhar sem riscos de surpresa na volta. Não entendi quando falaram comigo pela primeira vez. Então, para ouvi-las melhor, eu retirei os óculos escuros. Nada escutei, obviamente; em seguida, me livrei dos fones. Nesta ordem. Deu certo.Isso me lembrou das pessoas que colocam os óculos pra ouvir melhor. E o que dizer daquelas que trocam de óculos para aguçar melhor os sentidos?! Ou as que precisam desligar a televisão, mesmo com volume reduzido, para entender melhor uma conversa. E o que dizer de quem precisa ter algo nas mãos para falar melhor? E quem não conhece aquele que rabisca no caderno enquanto ouve uma explicação ou fala ao telefone? Tem de tudo.
É uma lista sem fim. Somos uma confusão de sentidos. Mas precisamos usá-los a nosso favor. Agora entendo quando uma terapeuta recomendou há alguns anos para deixar meu caçula brincar com um lápis ou um boneco qualquer durante uma explicação na escola. Confesso, na época, não tive maturidade pra passar isso para a professora. Erro meu.
Na verdade, ficamos sempre querendo nos encaixar num padrão, no que a média chama de normal. Até pouco tempo me via pedindo para uma menininha linda me olhar enquanto conversávamos e para parar de andar de um lado para o outro. Pra que isso? Por que impor a ela o que é melhor para mim? Em vez disso, não deveria estar mais ocupada com o que ela tinha a me dizer?
Lutar contra esse velho hábito, de nos colocar em caixas e padrões, é difícil pra caramba. Tem mais a ver com a gente do que com o outro. Com sentimentos contraditórios dentro de nós. Preste atenção em si, logo vai entender do que estou falando. E, se precisar, tire os óculos pra ouvir melhor. (Fabiana Ribeiro)