O que o Coronavírus tem a ver com inclusão?

Coronavirus e Inclusão

O que o Coronavírus tem a ver com inclusão?

Estou de quarentena dentro da minha própria casa. Tristeza sem fim de olhar pela janela …

Cheguei de um curso no Equador (lindo! Depois, eu conto!). Na véspera da partida pro Brasil, dormi de cabeça molhada. Acordei com dor de garganta. Voei, fiz escala em Guarulhos e cheguei resfriada. Não visitei meus pais, por via das dúvidas, pois meu pai é transplantado, diabético, hipertenso, etc. Pacote completo! Fui tocando a vida com soluções caseiras para um simples resfriado. Na segunda, depois de um compromisso do qual tive que sair mais cedo e de outro que cancelei, ligou o sinal de alerta. E se não fosse algo tão simples? Idas ao médico, ao laboratório, agendado exame em casa … Desde então, vejo o mundo, basicamente, pela janela e pelas redes sociais.

Estava aguardando os resultados para os testes de coronavírus e influenza,e, ontem, me bateu uma tristeza. Ai, ai … Ouvia o burburinho das pessoas na rua. Parecia um domingo de sol qualquer, mas não era… Praia cheia, cantores amadores no calçadão, cerveja gelada, barracas armadas na areia, bicicletas, patinetes… Pensar no outro pra que? Eu com medo de contaminar meu filho e marido? De ter, eventualmente, prejudicado amigos com quem mantive contato… Saiu o resultado! Nao tenho corona e agora? Vou viver a vida normal? Não!

Como assim, Flávia, pensar em inclusão nesse momento?

Logicamente, como uma pessoa que vive a questão da inclusão 24horas por dia, tudo tem a ver com inclusão, mas, especificamente, como fazer a conexão de uma coisa à outra? Todo o movimento e as políticas que vêm sendo adotadas mundialmente para evitar a propagação do coronavírus estão relacionados a algo que é inerente ao movimento de inclusão das pessoas com deficiência e qualquer tipo de inclusão, que é pensar no outro.

Em última análise, tudo pode se resumir ao sentimento de empatia e se colocar no lugar do outro. E por que é importante agora que cada um pense em fazer a sua parte e também em contribuir para o bem estar de todos? De todos mesmo! Porque isso significa deixar de pensar no próprio umbigo e pensar que embora eu não faça parte de algum grupo de risco, ou não esteja visitando meus pais, tios ou avós, existem outras pessoas além de nós mesmos e de nossa própria família.

Como saber se alguém faz parte do grupo de risco? As respostas nem sempre são tão óbvias! Não basta simplesmente olhar pra cara de alguém e imaginarnque ela tem mais de 60 ou é uma criança. Pode ser que seja uma daquelas pessoas que façam parte do grupo de risco silencioso ou que estão cobertas com o manto da invisibilidade social… Como saber se aquela pessoa que passou por você no corredor do shopping ou esbarrou em você no elevador é uma pessoa que tem um problema respiratório, é hipertenso, diabético, está fazendo um tratamento médico, tem sob seus cuidados uma pessoa com deficiência que tem uma questão rara, ou é alguém que pode ter complicações respiratórias? A gente nunca sabe! A gente não conhece a dor e a realidade do outro.

E, mais, e as pessoas que moram nas ruas que a gente finge que não nota? E as pessoas que trabalham para a cidade não parar? E as pessoas que estão nos plantões dos hospitais de todo o país? E nas redações dos veículos de comunicação? Ou, você acredita que todo mundo está fazendo de casa ou, como preferem os modernos, “home office”? Esse é um direito de todos ou só de alguns?

Quando se diz “fique em casa”, a gente está deixando alguém para trás?

Então, está na hora da gente parar e pensar um pouquinho no que o outro pode estar precisando. Então, está na hora de pensar no coletivo. Então, está na hora da gente parar um pouco e pensar também em inclusão. Somos um só!


Crédito da imagem: imagem circulando na internet, alusiva à campanha para as pessoas permanecerem em casa como forma de combate à propagação do coronavírus. Origem desconhecida.
Flavia Parente
flavia.parente@paratodos.net.br


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