O BBB, a Ritinha e o machismo

Machismo e violência contra a mulher.

O BBB, a Ritinha e o machismo

No mesmo dia em que Marcos é expulso do Big Brother, mais uma cena naturaliza a violência contra a mulher. Na trama Força do Querer, de Glória Perez, Ritinha (Isis Valverde) foge de casa para ir atrás de Ruy (Fiuk), que havia lhe prometido levá-la do Pará para o Rio de Janeiro. O plano não dá certo e ela vai parar em Belém e acaba por trabalhar no aquário da cidade vestida de sereia.
Tudo ia muito bem, até que o ex-noivo vê Ritinha no aquário. Então, o que faz? Manda a moça sair da água, como ela não sai, pesca com uma rede a mulher. Ela se queixa, fala que ele a machuca. Não importa. Ele coloca a sereia no ombro e a leva para o seu caminhão como se fosse um peixe. No carro, ela mostra sua revolta e chega a dizer que ele não é o seu dono. Seguem para casa e o moço – ou seria o mocinho? – joga Ritinha no chão e a humilha em praça pública. De brinde, a moça ainda leva uma surra da mãe.
A moça pisou na bola. Fato. Saiu fugidia, sem dar satisfação. Foi infantil, desrespeitosa, leviana. Mas que direito tem um homem de invadir o trabalho de uma mulher, retirá-la de lá à força, humilhá-la e carregá-la para a casa como se ela fosse a sua propriedade? Ainda que saibamos que cenas assim se repetem, de forma mais ou menos intensa, era de se esperar uma crítica, uma voz que se levantasse em defesa da moça. Nada. No fundo apenas uma música para dar o tom de graça ao episódio.
Inacreditável. Simplesmente inacreditável que a sucessão de episódios de violência contra a mulher – assédio do José Mayer e a violência no BBB – ainda tenha permitido a existência de uma cena como essa. Que, além de apoiar e justificar a violência contra a mulher, alimenta a culpa de mulheres como Emilly – que ainda sequer sabe que foi vítima de agressão física e psicológica por Marcos. Capaz de sair na quinta-feira do programa pedindo desculpas a seu agressor.
É a velha história. “A garota não se dá o respeito”. “Ela pede isso”. “Tem mulher que gosta de apanhar”. Ou seja: a culpa é da Emilly. Assim como a culpa é de Ritinha. São cenas como essas, repetidas e repetidas à exaustão, que vão formando o nosso imaginário. Vamos achando normal um homem acuar uma mulher, na frente de milhões de pessoas, e ficarmos assistindo no conforto do nosso lar. Nem Ritinha nem Emilly têm força sozinhas para se livrarem desses homens. Marcos, se tivesse sido retirado do programa antes, não teria tido tempo de deixar marcas no corpo de Emilly, em sua alma e em nossa sociedade.
É nesse contexto, dentro de uma sociedade machista e excludente, que está inserida a luta por direitos das minorias. E é essa mesma sociedade precisa falar de Educação. No momento, o Plano Municipal de Educação (PME) – que define as diretrizes da educação no Rio pelos próximos 10 anos – está em discussão e não deveria haver espaço para qualquer tipo de preconceito e violência. Devemos isso a todas as Emillys e Ritinhas que estão escondidas por aí. Elas podem ser ser sua vizinha, sua tia, sua colega de trabalho ou sua atriz preferida.
Elas podem ser você.

Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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