Noite de formatura

Noite de formatura.

Noite de formatura

Numa segunda-feira de abril, cerca de 140 jovens animavam o hotel Royal Tulip, em São Conrado. Lá estavam eles, com seus sonhos e projetos, os mais novos economistas, administradores, contadores e engenheiros de produção, formados pelo IBMEC. Do total de jovens, apenas três eram negros – um deles, o Wellington. Um, dois, três que sequer chegam a representar 10% do seleto grupo de diplomados da noite. Ah, sim, havia outros negros no salão. Todos de terno. Todos em serviço, desempenhando um papel que a sociedade já está mais acostumada a ver. Mas voltemos, voltemos.
Era noite de formatura. E, após uma breve abertura, a plateia foi surpreendida com a fala de uma apresentadora: “Wellington se formando, hein?”. Não entendi. Seria uma dessas piadas internas que somente os envolvidos compreendem? Jamais saberemos. O que podemos dizer, com certeza, é que, em meio aos tantos formandos da noite, Wellington nos fez refletir quando perguntou a seus colegas: “Qual o nosso dever e qual a nossa responsabilidade? Nossos pais fizeram um investimento caro, dava para comprar um carro.” E todos riram. Em seguida, emendou: “cabe a nós agora sermos responsáveis pela nossa sociedade”. O jovem disse que, ao reencontrar seus colegas em dez anos, espera que, de fato, tenham feito a diferença. Convocou a todos para que pensem em atuar no setor público e não apenas na área privada. Foi aplaudido de pé por muitos.
Juntamente com a fala de Wellignton, outros discursos nos conduziram a pensar mais no outro, no coletivo. Falaram de “oportunidades iguais”, “sair da zona de conforto” e sobre a “obrigação de lutar por um mundo melhor”. “Aos desiguais, tratamento desigual” foi outra frase ouvida. Mas será que o discurso sai para prática?
Numa sociedade individualista e cada vez mais centrada no próprio umbigo, essas falas nos remetem a repensar nas nossas próprias atitudes. Se queremos um mundo melhor, todos precisamos nos envolver mais. Nossa vida blindada em praias particulares ou fechadas em guetos perfeitos não transforma o mundo num lugar melhor para se viver. Responsabilidade pelo outro deveria ser a nova palavra de ordem.
Wellington, desejo que, de fato, você e seus colegas façam a diferença e que, nas próximas formaturas, as minorias possam estar mais representadas. Mais pessoas negras como você possam se formar na universidade. E, ainda, mais pessoas com deficiência também concluam seus cursos. (Ciça Melo)

Ciça Melo
cica.melo@paratodos.net.br


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