No vale-tudo 

No vale-tudo 

Na sórdida disputa entre Dilma e Aécio pela cadeira da presidência, o legado deixado foi a intolerância – dos dois lados. Sob o respaldo de que vivemos numa democracia, os xingamentos deram o tom da defesa dos seus candidatos. “Volte para sua favela”, gritavam uns. “Playboy mimado”, bradavam outros. Explosões de fúria se multiplicaram no Facebook numa ode ao desrespeito apoiado em formas de curtidas e mais curtidas. Nós demos uma farta lição de ódio ao diferente de nós mesmos. Voltamos dez casinhas no tabuleiro da diversidade. Xingar não tem a ver com democracia, tampouco com liberdade de expressão. É agressão.
No exercício do xingamento, ficaram de fora as propostas. Poucas foram as discussões nas redes sociais sobre o que pretendem fazer os seus candidatos. Amizades desfeitas, amigos bloqueados. Mas os bons exemplos também não vieram de Dilma ou Aécio. E, no que nos toca especificamente, a pauta sobre inclusão, que interessa a mais de 40 milhões de brasileiros, cai no mesmo campo vazio dos debates. No da GLOBO, até tentou-se falar em inclusão – um avanço, sem dúvida. Mas, nos poucos segundos de fala, nada ficou claro. O eleitor interessado vai ter que, para se posicionar a respeito, buscar na internet algo que lhe conforte. E pode até ser que encontre. Ou não.
Mas, no fim das contas, sobraram adjetivos como “antas”, “terroristas”, “favelados”, “filhinho de papai”, “viciado”, “pobre”, “rico”, sendo o ápice o gratuito e ressoante “vai tomar no cu”. Pena. Pena porque ratificamos, com truculência, que não admitimos o diferente. E, se não toleramos o outro, como falar de inclusão? Onde fica a inclusão, cuja base de qualquer ideia que a defenda precisa necessariamente passar por respeito, ética e tolerância? Como aceitar o diferente, quando o que realmente queremos são amigos-espelhos-de-nós-mesmos-para-a-vida-toda?
Não, a eleição não nos deixa apenas um presidente. Deixa como herança um Brasil dividido, que vai complicar, e muito, o trabalho do síndico. Pois, essa campanha abriu espaço para a imposição do voto pelo desrespeito. Não demos lição de democracia. Demos lição de intolerância. E já vimos por aí onde a intolerância pode levar a humanidade.
Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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