No mundo mágico da Disney

No mundo mágico da Disney

A Disney estaria mais criteriosa em conceder passes que agilizam a entrada de pessoas com deficiência em seus brinquedos e atrações. Parece que vinham ocorrendo abusos por lá. Era o que eu tinha ouvido por aqui. Confesso não ter entendido muito bem. Até entender muito bem.

No mundo mágico da Disney, a pessoa com deficiência – e toda a sua família – te(ê)m prioridade mesmo. Funciona mais ou menos assim: após apresentar seu relatório médico no Guest Relations de um dos parques do Mickey, a família ganha prioridade. A garantia de acesso facilitado fica registrado eletronicamente no ingresso e, com isso, é possível marcar o horário para se ir uma vez na atração escolhida. Não é uma hora exata. Mas, por exemplo, se o atendente marcar que sua família pode ir na concorrida Space Mountain às 14h53, isso significa que vocês têm de 14h53 até o fechamento do parque para aproveitar o brinquedo uma vez. Se quiser ir outra vez, basta reagendar com o funcionário que fica na entrada do brinquedo. E, assim, poupa-se tempo nas longas filas do parque.
Mas não é somente o tempo que se ganha. É respeito. É o reconhecimento de que uma criança com autismo ou com Síndrome de Down, por exemplo, tem menos condições de suportar a espera em meio a tantos ruídos e estímulos visuais. É respeitar que um pessoa com restrições físicas talvez precise de mais tempo e espaço para se locomover até o brinquedo. É garantir que todos se divirtam independentemente de sua condição física, intelectual ou psíquica.
Porém, diante de tanta facilidade, não é de se espantar que algumas pessoas usem do artifício para se favorecerem do benefício. São os mesmos que estacionam seus carros nas vagas para pessoas com deficiência ou de idosos, não cedem lugar no metrô ou ignoram a fila preferencial dos supermercados para pessoas com necessidades específicas. Então, a hora em que ter uma deficiência se torna um atributo positivo, frauda um atestado médico, sem culpa, e vai curtir a vida numa nice.
Isso é errado. É imoral.
A educação — mais uma vez — pode mudar isso. Porque as escolas podem formar médicos, cientistas e engenheiros que compreendam o real valor de leis voltadas para pessoas com deficiência. Que não têm a ver com piedade tampouco com privilégio. Mas com direitos e com reconhecimento de diferenças. A começar pelas diferenças de oportunidades.
Somente a educação iguala as oportunidades colocando os cidadãos em iguais condições para competir no futuro. Esse pensamento não é meu. Vários autores já falavam isso, em contextos não necessariamente ligados à deficiência. Somente com educação é preciso ter um mundo que reconheça a importância de assentos preferenciais, filas preferencias, cotas, espaços exclusivos. Somente a educação pode conseguir tirar dos ‘espertos’ a sensação de vitória e lhes colocar o sentimento de vergonha. Pois usar o crachá da deficiência para ficar menos tempo numa fila é uma vergonha.
Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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