“Negro de primeira linha”

Sociedade racista e preconceituosa.

“Negro de primeira linha”

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, chamou Joaquim Barbosa, ex-presidente de nossa Corte Suprema, de “negro de primeira linha”. Errou. E logo, sem meias palavras, se desculpou não somente ao homenageado do dia, mas “a quem possa ter ofendido ou magoado com esta frase infeliz”. Disse ainda: “Gostaria de pedir desculpas sobretudo se, involuntária ou inconscientemente, tiver reforçado um estereótipo racista que passei a vida tentando combater e derrotar”. Sim, reforçou.
Seria o ministro Barroso racista? Estaria só? Isolado? Infelizmente, nossa sociedade é racista. Racista e preconceituosa. Barroso é apenas mais um que sequer percebe(u) que a frase que seria elogiosa, na verdade, carrega toda uma história de exclusão. A nós, cabe combater esse monstro dentro de nós. E o caminho perpassa por refletirmos mais nos nossos gestos, atitudes e palavras.
Esse caso, inevitavelmente, nos leva a repensar nas pessoas com deficiência – muitas vezes não consideradas como pessoas de “primeira linha”, como se fosse possível categorizar seres humanos. Ganham status “superior” quando superam obstáculos, fazem algo incrível ou inesperado. Ou quando se tornam cada vez mais próximas dos padrões sociais, anulando sua própria diferença.
Exagero? Não seria apenas uma “expressão infeliz”? Afinal, Luís Roberto e Joaquim são amigos, lecionaram juntos, se respeitam. Porém, palavras mostram o que pensamos de fato. “Inconsciente” – dito pelo próprio Barroso.
É este inconsciente que conduz nossas ações também. De nada adianta construirmos apenas rampas. Pessoas com deficiência não precisam apenas de acesso aos prédios. Precisam que a sociedade respeite todos os seres humanos, não classifique ninguém e, principalmente, expurgue seus preconceitos para que todos, todos mesmo, todos tenham as mesmas condições de viver juntos e misturados.

 


Ciça Melo e Fabiana Ribeiro
Editoria
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