Na sala, os filhos da PUC

Na sala, os filhos da PUC

Na utópica democracia racial em que vivemos, uma aluna da PUC levantou a voz e não se calou frente à postura supostamente racista de professoras da conceituada instituição de ensino. Segundo a estudante, a única negra de sua turma, duas docentes fizeram piadas e comentários sobre seu cabelo diante dos alunos em vários momentos. Há testemunhas, como mostrou matéria publicada há alguns dias pelo Globo.

O que leva professores a fazer um tipo de comentário como esse em sala de aula? Falta de formação? Pouca educação? Má criação? Seja lá qual for o motivo, as piadas não eram para fazer sorrir, mas para magoar, ferir, atacar. Não vou entrar na seara de que racismo é crime, dá cadeia, mas o que me tira o sono nesse caso específico é pensar que professores assim contribuem para (mal) formar os jovens de hoje – afinal, estamos numa época em que pais terceirizam a educação dos seus filhos para quem estiver mais perto – e ainda corroboram todo um discurso (oculto, sem dúvida) que coloca à margem os negros desse país.

Aprendemos a partir do exemplo, não podemos nos esquecer disso. Lembro, certa vez, quando uma conhecida me contava as razões de não ter preconceito racial, ao mesmo tempo que  explicava seus motivos para não aceitar que sua filha se casasse com um negro. Ela pode nunca ter dito isso claramente para sua menina, mas o fato é que a jovem, quando resolveu entrar na conversa, disse também não ser preconceituosa e que não se importaria de ter uma amiga negra na turma: “Mas casar com um negro e ter de conviver diretamente com essa situação? Aí, não, isso não”. Imagina se essa mesma menina estivesse na PUC, nessa mesma turma… Danou-se.

Professores – tampouco pais – não podem ter esse papel. Especialmente numa instituição de ensino – católica – consagrada nacional e internacionalmente, e referência em tantas áreas. Professores precisam ser os grandes formadores de mentes, não somente brilhantes de academicismos, mas de pessoas capazes de acompanhar diretrizes dos novos tempos, onde não há espaço para racismo, preconceito, falta de direitos.
Se a moda pega, em breve, a voz dessa maioria pode arrebatar outras minorias. Teremos professores rindo de cadeirantes ou destilando veneno sobre estudantes com alguma dificuldade intelectual. Não que isso não aconteça… É inadmissível que um professor, que é a autoridade de uma turma e supostamente a referência do saber em sala de aula, aja de forma preconceituosa e desrespeitosa. Erra quem pensa que a única vítima da piada sem graça em sala é apenas a moça negra da turma. Não. É a turma toda. Ali, todos são os mesmos filhos da PUC e, por isso, têm os mesmos direitos, a começar pelo respeito. Aos alunos que se opuseram ao comportamento dessas professoras, parabéns pela capacidade de remar contra a maré. Aos professores, as batatas.

Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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