Especial Tunísia: tolerância? Não!

Tolerância ou não?

Especial Tunísia: tolerância? Não!

Dez dias passados. Indo para o interior do país. Áreas rurais e remotas da Tunísia. Lugares onde éramos os únicos estrangeiros. Mais de 2.500 km de estrada foram rodados. Horas de conversas com tunisianos.
Começo a entender mais sobre este país. Percebo, então, que, apesar da chamada tolerância estar no discurso, está bem longe da prática – pelo menos, assim me pareceu.
Ainda na capital, tentei entrar num café, mas não consegui passar da porta. Ao olhar para dentro, vi que em todas as mesas haviam apenas homens. Que rapidamente olharam para a porta. Dei dois passos para trás, não entrei.
No litoral, passamos pelas lindas praias da Tunísia. Muitas desertas e algumas com homens nadando. Pouquíssimas mulheres e a grande maioria estava na praia de roupa. No interior, cruzamos cidades inteiras sem nem uma mulher na rua. Apenas homens circulavam ou conversavam agrupados em rodas.
Apesar de Habib Bourguiba (presidente que esteve no poder por 31 anos) ter sido considerado  “o libertador das mulheres”, na prática, ainda estamos longe de ter os mesmos direitos. Em 1956, no seu primeiro dia de mandato, ele estabeleceu o Código das Mulheres. Liberando para que as mesmas pudessem votar, abolindo a poligamia e possibilitando a mulher a solicitar o divórcio.
Entendi ainda melhor esta cultura quando ouvi de um tunisiano: “Não somos contra os homossexuais, mas preferimos manter a sociedade normal.” Aqui na Tunísia a homoafetividade ainda é considerado ilegal. Neste momento, percebi o quanto mulheres, homossexuais e outros ainda estão longe de ter os mesmos direitos.
Tolerar não significa de fato conviver com as diferenças. Tolerância e respeito não significam de fato aceitação e direitos iguais. Burkini e biquíni estarão juntos na mesma praia? Sim, são tolerados e respeitados. Mas será que a opção de usar um ou outro existe de fato? Enshalá (“se Alah quiser”, em árabe) ainda veremos de fato a mulher fazer esta escolha. (Ciça Melo)
Ciça Melo
cica.melo@paratodos.net.br


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