Escola pra quê?

Escola pra quê?

Pare por um momento. E pense: pra que serve a escola? Por que gastar tanto dinheiro na educação do seu filho? Qual é o objetivo final da vida escolar? Entrar na UFRJ, na Unicamp ou na PUC, responderiam uns. Garantir empregos futuros, diriam ainda alguns. Excelentes empregos futuros, corrigiriam outros. Então, seria a escola apenas o caminho seguro para o mundo do trabalho?
Dia desses, uma amiga justifica a escolha da escola do filho dizendo algo como “não há espaço para que meu filho não seja alguém da vida”. Isso ficou me martelando por um bom tempo. Então, é disso que se trata a escola? Ou, ao menos, do que se trata a excelente escola? Pegar a criança pequena e talhá-la no formato de um trabalhador. Qualificado, ora. Muito bem qualificado. A escola é uma formadora, portanto, de trabalhadores que vão atender às demandas de um mercado de trabalho competitivo à beça. É isso?
Pensando assim, os pais não deixam essa função a cabo somente da escola. E, dali Kumon, professor particular, mandarim, coach, sem falar nas recompensas por boas notas, interferência direta das famílias na avaliação do aluno e, claro, das horas a menos de lazer e brincadeiras por estudos cada vez mais cedo. Nem vou discorrer aqui sobre os reflexos das agendas lotadas das crianças ou dos efeitos para muitos das escolas que se orgulham de seus gênios: há uma vasta literatura a respeito desses dois temas feita por gente muito mais capaz do que eu.
O mundo não tá fácil e preciso preparar meu filho”, defendem outros. Assim, desde cedo, na idade em que a escola nem é obrigatória ainda, já se escolhe o colégio pensando em palavras como “Enem”, “mercado de trabalho”, “empregabilidade”, “disciplina”, “faculdade” e “sucesso”. Bom, muito bom. E, assim, eu já traço um futuro bacana (para mim) para meu filho, de 4, 5 anos, faço uma aposta alta na sua felicidade laboral, mas fecho os olhos para o “como”. E o meu guri, claro, chega lá.
É claro que a escola tem a ver com futuro. Tem tudo a ver com o futuro. Mas tem a ver também com sonhos, experiência, valores, erros. E não com obediência. Uma escola pode ser o lugar de formar a ética do trabalho, ainda que a família e, para muitos, a religião cumpram bem esse papel, mas também deve ser o endereço de aprender e ensinar. E isso inclui álgebra e cooperação. Física e Artes. História e Música. E, especialmente, viver com tanta gente diferente no mesmo lugar.
A escola não precisa ser apenas o caminho mais longo – e muitas vezes o mais árduo – para o mercado de trabalho. Pode ser o lugar onde se dispara o gatilho do pensar. Do pensar criticamente. Do pensar para questionar certezas que nos disseram. Do pensar para formar gente mais ética, responsável e com autonomia. Uma gente capaz de criar seus próprios sonhos, viver seus próprios erros, sem querer somente responder às expectativas da mamãe.
Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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