Enem: inclusão foi a zebra da vez

Tema da redação do ENEM sobre formação educacional para surdos.

Enem: inclusão foi a zebra da vez

Nunca tanta gente pensou em inclusão como no último domingo. Do Oiapoque ao Chui, milhares de estudantes tiveram de escrever sobre os desafios da inclusão escolar das pessoas com deficiência auditiva no Enem. Do lado de fora, as pessoas debatiam o assunto com textos apaixonados, ultrajados, reflexivos ou acusadores. Vídeos contra, vídeos a favor. Ativistas, mães, estudantes, educadores, todos tinham alguma opinião sobre o assunto.
A inclusão foi a zebra da vez mesmo. As apostas para o tema recaíam sobre homofobia, violência, mobilidade urbana, bullying e noticias falsas na internet. Ninguém sequer cogitou a inclusão. Deram mole. Afinal, não é de hoje que o Enem aborda a agenda das minorias e das desigualdades. Os alunos já tiveram que discorrer anteriormente sobre violência contra a mulher, intolerância religiosa, racismo, diferenças e, neste ano, sobre educação inclusiva de pessoas com deficiência auditiva.
As apostas das escolas e dos cursinhos nos temas não são à toa. Os alunos treinam redação. Faz parte da rotina massacrante de estudos para se passar no Enem. Treinam – e há até quem decore – a estrutura e os argumentos dessas apostas. Porém, para falar de inclusão, não houve treino. Em vez disso, deveria ter havido vivência e convivência ao longo da vida escolar. Deveria – do verbo não-é-bem-assim-que-a-banda-toca. Assim, escrever sobre inclusão, de pessoas com deficiência auditiva ou de alunos com qualquer outra deficiência, seria feito com naturalidade. Afinal, é mais fácil para qualquer um escrever sobre aquilo com que lida no dia a dia. As grandes dificuldades seriam a grafia correta das palavras, a pontuação e, sim, a crase.
Ao focar somente nos rankings do Enem, as escolas prejudicaram seus alunos no próprio Enem. Aliás, vem prejudicando ano a ano ao ignorar a diversidade que estampa as ruas da nossa cidade. Diversidade cultural, de gênero, de ideologias, de pensamentos, de vida. E, ao ignorar o mundo ao redor, domingo foi um dia bem difícil para milhares de alunos. Difícil, mas, sem dúvida, necessário.


 

Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


});