É de pequenino…

É de pequenino…

Os filhos, desde muito pequenos, escutam conversas de adultos, assistem a filmes e televisão, usam tablets e computadores, encontram-se com amigos, conversam. Como será que interpretam as informações que recebem? As estruturas cognitivas e emocionais de crianças são diferentes das de adultos, e, naturalmente, suas impressões se baseiam no que vivenciam e interpretam de acordo com suas possibilidades. A carência de pensamento abstrato reforça a tendência a etiquetar os outros com informações truncadas e mal interpretadas. Os adultos devem estar sempre atentos para orientar o entendimento do que a criança experimenta na vida e para perceber os valores que está construindo.
Imersas no mundo das mídias, que mostra uma realidade onde quase tudo é resolvido com violência e onde os heróis e bandidos são armados e há toda espécie de comportamentos preconceituosos e agressivos, as crianças percebem o clima de rejeição ao outro – um outro que encarna um mal obscuro – e acabam trazendo o sentimento vago para as relações com os amigos. Surgem rejeições confusas que, sem conversas para trazer à consciência a iniquidade e perversidade das ações, podem acabar em práticas de bullying e agressividade. A espécie humana tende a não aceitar os outros e suas diferenças e maneiras de ser, num eterno exercício ilusório de poder. Só a construção de um pensamento requintado, menos básico, é que leva à rejeição de preconceitos, à aceitação das diferenças e ao convívio amigável. A construção do pensamento cognitivo abstrato acompanha os sentimentos morais e afetivos.
Preconceitos se estruturam muito cedo e, certamente, não são “coisa de criança que vai passar”, como muitos preferem pensar. É preciso educar, e educar dá trabalho para a escola e para a família. Num mundo de moralidade esgarçada, há a necessidade de construir uma atitude de respeito pelos outros sem permissividades, desde muito pequenos. No século 21, os preconceitos são inadmissíveis e inaceitáveis.
Conversar sobre valores é uma providência para evitar, mais tarde, a surpresa de ter criado uma pessoa preconceituosa e rejeitadora, sem pertencimento ao que a humanidade tem de melhor, que é acreditar na possibilidade de um mundo acolhedor e justo para todos.

Por Patrícia Konder Lins e SilvaP, pedagoga e diretora da Escola Parque. O texto acima foi republicado com a autorização da mesma. 
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