Direito ou privilégio?

Cabeça quente, saindo fumaça.

Direito ou privilégio?

Há uma grupo, nada irrelevante, de pessoas que não acreditam na educação inclusiva. Sim, existe muita gente assim. A boa parte dos descrentes numa educação para todos nem é o professor. São amigos, colegas de trabalho, vizinhos, primos, pais da turma – gente bem comum. Que, em geral, só vai pensar no assunto quando a deficiência cai no colo de alguém bem próximo, da família ou não.
É uma turma que considera a inclusão um custo a mais para as escolas, uma dor de cabeça para os professores, uma amolação para os filhos, um atestado de privilégio para um grupo de alunos que não mereciam tanto. Em suma: uma perda de tempo. É, tem gente que pensa assim. Ainda. Não reconhecem que os filhos sem deficiência precisam sair da bolha da escola e lidar com o mundo real. E, no mundo real, as pessoas com deficiência estão nas ruas, nas praças, nos clubes, nos shows. E, sim, têm direitos. Portanto, são cidadãos – e não subcidadãos -, são alunos – e não subalunos -, e são indivíduos – e não subindivíduos.
Cabe às escolas educar a sua comunidade. Levantar o véu de ignorância que paira sobre a inclusão e apresentar a educação inclusiva como parte de sua filosofia. Como a Ética. Como a Liderança. Como a Reciclagem. Enquanto as escolas não colocarem todos na mesma página, sempre haverá pais que vão achar que adaptação curricular é privilégio, que mais tempo para fazer a prova é privilégio, que mediação é privilégio, que respeito às diferenças é privilégio. É direito.
Muita vezes os argumentos são que uma sala de aula para todos já é por si só para todos. Todos quem? Todos quem, menos quem? A inclusão vem corrigir justamente isso. Vem corrigir as distorções, aproximar extremos, trazer a equidade para a sala de aula. A teoria é linda, ora, ora. Mas o que dizer a uma criança que não entende o fato de o colega de turma ter tido tempo a mais para fazer a prova de matemática e apoio de um mediador, enquanto ele não conseguiu terminar toda a sua prova no tempo regulamentar? O problema não está na pergunta. Dúvidas, curiosidades e questionamentos sempre existirão e fazem parte de um crescimento saudável. A preocupação recai na resposta. Quem responde a essa criança? Quem responde o quê a essa criança?
(Aliás, se quiser saber se a sua escola é inclusiva, está aí uma boa pista. O que a sua escola responderia a este aluno? Eis a verdadeira questão). 
Falta informação. Falta informação para todos os lados. De todo tipo. E esse desconhecimento geral traz um conta pesada no futuro. Afinal, é preciso lembrar que as pessoas com deficiência não têm as mesmas possibilidade de escolhas que pessoas sem deficiência. Basta, pois, olharmos alguns números.  Sem uma educação inclusiva eficiente, as escolas reproduzem desigualdades que saem da escola e desembocam no mercado de trabalho. Tanto assim que  menos de 1% das pessoas com deficiência no país estão no mercado de trabalho. Se a escola não for cada vez mais inclusiva e compromissada com o aluno com deficiência, o resultado é um futuro sem possibilidades ou direito a escolhas.  Sim, são essas distorções da realidade como essa que explicam e mais que justificam a importância, a relevância e urgência de a inclusão ocupar todas as escolas. Todas.
Sempre haverá quem não goste ou se incomode com a inclusão. É bem verdade, sempre haverá. Sempre haverá também quem discorde das leis que estão em vigor. Discordar, isso também é direito. Só que educar esse pais também é papel da escola que se pretende inclusiva. Informar e, de quebra, envolver.
Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


});