Dez, nota dez! Mas em que mesmo?

Dez, nota dez! Mas em que mesmo?

O que é mais importante para você: seu filho entrar em uma boa faculdade ou ser uma boa pessoa? Teoricamente, uma coisa não tem nada a ver com a outra, certo? Até porque é possível ter o melhor dos dois mundos. Mas, numa pesquisa feita em escolas particulares nos Estados Unidos, nem todo mundo estranhou a pergunta e a estatística apontou que cerca de 40% dos estudantes dão preferência à primeira opção. E quase metade disse ser mais importante para seus pais que eles ingressem numa boa instituição de ensino do que serem pessoas boas. Tal pai, tal filho…
A obsessão pelo melhor desempenho começa, por aqui também, desde cedo. Ainda na Educação Infantil. Nessa fase, onde brincar é tão importante (e importante no sentido que tantos gostam: brincar estimula o desenvolvimento), muitas famílias lançam seus filhos às tidas melhores escolas, já pensando, ó Céus, no Enem. E vale tudo: estudar com a criança em casa, cortar algumas horinhas de lazer, apertar um pouco mais agenda, premiar notas mais altas, contratar professor particular etc etc. Muitos se saem muito bem. Passam anos sem trauma algum, vão felizes para o colégio e se tornam eficientes executivos-globalizados-de-alta-performance. Sem roer unhas, sem sinais de ansiedade, tristeza e depressão, sem estresse, sem qualquer queixa. Para outros, essa passagem é um verdadeiro sofrimento.
O que essa pequisa mostrou é que a pressão em fazer o bem está lá no pé. Já a pressão pelo alto desempenho, nas alturas. Só que esse comprometimento com o mercado do futuro traz danos emocionais e morais. Afinal, muitas vezes, muitos pais abrem mão de alguns valores desde que as notas dos filhos sejam e permaneçam elevadas. Isso inclui aceitar atitudes como colar numa prova ou deixar de ajudar a um colega. Inclui ainda pequenas humilhações comuns a pais que forçam a barra para que o filho faça algo que ele, naquele momento, não pode dar. Um cenário muito grave. Afinal, segundo especialistas, na hora de buscar uma motivação para tirar notas altas, adivinha por quem as crianças são mais influenciadas? Pelos pais, ora, ora. Só que atualmente muitos pais transmitem aos filhos mensagens sobre desempenho acadêmico que são prejudiciais ao crescimento moral deles.
E onde isso chega na inclusão? Na verdade, não chega. A obsessão pelo 10 nas provas, a guerra de boletins das mães vaidosas, a pressão sobre os filhos atropelam outros valores que deveriam também preocupar as famílias. O importante passa a ser chegar lá, e não o como chegar lá. E, assim, ficam para trás, ou melhor, de fora, tantos jovens que não acompanham o frenético ritmo das escolas de excelência. Só que deixar estudantes com alguma questão fora das salas daquelas que são consideradas as melhores instituições de ensino é um erro, primeiramente, para as crianças que foram excluídas, e, em segundo, para as demais.
Ao excluir as crianças com alguma deficiência das escolas, os colégios concentram apenas na formação acadêmica. Saem alunos muito bem preparados para enfrentar os livros de UFRJ a Harvard. Mas perdem em valores morais ao ignorarem que desempenho acadêmico é apenas mais um aspecto da vida escolar. Friso aqui: mais um. Solidariedade, consideração, respeito, tolerância às diferenças, diversidade são valores que se aprendem em casa, sim, mas que também precisam ser passados e reafirmados na escola.
As escolas de hoje, todas, precisam passar por uma revolução. Mas, mais do que isso, os pais precisam participar ativamente desse processo. Achar que a escola é lugar onde se formam brilhantes trabalhadores do futuro é querer pouco de uma instituição de ensino. Nem todos nasceram para trabalhar na Ambev. Então, ainda que as opções da pesquisa sejam em princípio estranhas, eu nem hesito em responder: se tivesse de escolher entre boa faculdade ou boa pessoa, eu optaria pela bondade. Até porque a cada dia que deixo meus filhos na escola, eu tenho um desejo: que eles não me venham pra casa sabendo apenas a tabuada de trás para frente, mas que eles sejam pessoas melhores, íntegras e corretas a cada dia. Talvez seja um desafio mais difícil do que descobrir o X da questão.
E você? Agora que o ano começou para valer, o que espera da escola do seu filho?
Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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