Dez no Enem. Zero em inclusão

Dez no Enem. Zero em inclusão

Não é fácil para as grandes escolas estarem entre as top 5 do Enem. Pergunte a seus alunos. Eles podem explicar, felizes ou não, como se chega ao pódio. No pain, no gain.
Não vou discorrer aqui sobre as escolas religiosas ou laicas; tradicionais ou construtivistas. Até porque fiz uma escolha e, portanto, impossível ter uma opinião imparcial. Mas do que discordo com veemência é que muitas escolas do topo não conseguem conciliar nota boa com inclusão. E isso é uma falha e tanto na alma desses colégios — muitos deles, aliás, religiosos. Inclusão não pode estar fora do currículo das escolas. Não pode. Não mais. É uma questão de moralidade. E de realidade.
O mesmo cuidado que se tem para explicar ciências ou matemática. A mesma obstinação para gerar concorrência entre as crianças ainda pequenas. O mesmo entusiasmo na hora de contratar professores de excelência. O mesmo engajamento para exaltar os melhores e excluir os fracassados. A mesma fixação por notas, provas, ranking de alunos, deveres de casa. É preciso o mesmo empenho para mostrar às crianças que a escola precisa ser uma réplica do mundo. E isso também deveria se traduzir em um compromisso em se ter – e manter – matrículas de estudantes com dificuldade em aprendizado.
Não há uma explicação plausível que justifique a ausência quase total de crianças com alguma deficiência física ou intelectual naquelas que são consideradas as melhores escolas do país.
Ou será que tem?
Abrir as portas para crianças com autismo, síndrome de down ou deficiência auditiva não é uma decisão trivial para as escolas. Afora todas as adaptações que se fazem necessárias, esses alunos baixam o desempenho no Enem. E ninguém quer ficar atrás no Enem. Então, danem-se as crianças fora do padrão.
Quer saber se a escola é inclusiva? Olhe a turma do seu filho. Veja quantos alunos considerados de inclusão estão ali. Há crianças com síndrome de Down na escola? E crianças com autismo? Algum jovem em cadeira de rodas? Viu aluno com baixa visão ou perda auditiva? Ou o grande projeto inclusão é cuidar dos filhos de executivos americanos? Se não encontrar estudantes com alguma deficiência na sala do seu filho ou mesmo na escola, não tenha dúvidas: você não está numa escola inclusiva.
Pode-se ter os melhores alunos na escola, desfilando seus sucessos no vestibular, jogando na cara que passaram por ali os melhores colocados em medicina entre as universidades públicas. Mas não se tem o primordial: valores. É aquela velha ladainha da diferença entre ser e ter. Infelizmente, essas escolas esquecem de ensinar a seus alunos que a educação não é uma competição. Educação é um direito básico, fundamental, inalienável de todos.
Qualidade de ensino e inclusão não precisam ser incompatíveis. Pode-se colecionar prêmios do Enem e ainda insistir em moralidade. A sociedade agradece.

Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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