Crianças com deficiência e abuso sexual infantil

capa da cartilha EU ME PROTEJO

Crianças com deficiência e abuso sexual infantil

*  Mariana Reade

 

Uma das consequências mais dramáticas que a pandemia trouxe foi o aumento de violência sexual contra crianças.

Infelizmente, de acordo com o U.S. Centers for Disease Control, 1 em cada 4 meninas e 1 em cada 13 meninos é vítima de abuso sexual até os 18 anos. E, de acordo com o Atlas da Violência 2018, 68% dos registros de abuso sexual no Brasil ocorrem com estupro de menores.

Uma situação ainda mais vulnerável acontece com crianças com deficiência. Segundo dados da UNFPA 2018, 40 a 68 % de meninas com deficiência sofrerão violência sexual antes dos 18 anos de idade. Entre meninos, a estimativa é de 16 a 30%.

Crianças, com e sem deficiência, tem maior dificuldade em reconhecer o abuso e muitas vezes sequer sabem que estão sendo abusadas. Por isso é tão importante conversar e ensinar desde cedo. Há muito desconforto das famílias em conversar sobre o tema, mas é de fundamental importância ensinar para uma criança com deficiência o que é o abuso.

Em muitas situações, a criança é desacreditada, já que a família não acredita ou nega, especialmente quando uma pessoa da própria família é o abusador. E ainda, uma criança com deficiência pode ter maior dificuldade para conseguir se expressar.

A expressão VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL nos leva a lugares tão sombrios que muitas vezes preferimos ignorar. Porém, ante essa terrível realidade, é melhor estar preparado para enfrentar o inimigo ao invés de fingir que ele não existe. Ensinar a se proteger é entregar ferramentas para a criança conseguir pedir ajuda, se um dia precisar.

Faço parte da campanha EU ME PROTEJO. Somos um grupo de colaboradores voluntários formado por psicólogos, médicos, jornalistas e defensores de direitos humanos e acreditamos que a educação é uma forma poderosa de prevenir a violência sexual infantil: https://www.eumeprotejo.com/

Se para nós, adultos, é difícil revelar os abusos que já sofremos, imagine como pode ser devastador para uma criança? E se para uma criança vítima de abuso sexual, pedir ajuda é um enorme desafio por se deparar com o muro gigantesco do medo e da vergonha, para uma criança com deficiência, atravessar a barreira da comunicação e conseguir expressar o abuso pode ser uma missão ainda mais difícil.

Além da violência, a criança muitas vezes enfrenta as ameaças que seu agressor faz para deixá-la calada. O muro está erguido e ela se encolhe dentro do sentimento avassalador que é o “sem saída”. Mas nós, adultos, sabemos que há saída. Há sempre um caminho para sair e ele se dá através da confiança, do afeto, do acolhimento e da informação.

Ensinar crianças com deficiência a se proteger da violência sexual é fundamental. Que possamos fazer a nossa parte para que muros intransponíveis não deixem nenhuma criança sem saída.


*Mariana Reade é jornalista especializada em criação de conteúdo, roteiro audiovisual e comunicação de causas de impacto social, com foco em direitos humanos, diversidade e inclusão.
Convidado/a
paratodos@paratodos.net.br


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