Conhecemos mesmo nossos filhos?

Bullying.

Conhecemos mesmo nossos filhos?

O recente caso do jovem que atirou em alunos de uma escola em Goiânia reacendeu o debate sobre bullying. Afinal, esse teria sido o motivo de toda a sua raiva contra seus colegas. Precisamos, porém, ir mais além. A tragédia precisa nos fazer repensar sobre o tipo de pais que somos para nossos filhos. E, assim, nos questionar: Será que conhecemos mesmo nossas crianças?
Educar exige proximidade, intimidade com o rebento. Requer olho no olho. Implica dizer mais “não” do que “sim”. Envolve colo, noites em claro, conversas sem fim. É o amor fora das teorias. Mas até aí zero novidade. Se sabemos disso, o que anda dando errado por aí? Chutaria dizer que há uma nuvem de desinteresse pelos filhos rondando as famílias. Uma preguiça danada. E isso não nos faz sequer saber a cor preferida dos filhos… Sem saber o básico, impossível perceber que um filho persegue um colega, chega triste da escola, não tem amigos, tem tiques, não recebe telefonemas nos fins de semana ou mudou de humor repentinamente. Pobres órfãos.
Pais com pouco contato com filhos perdem oportunidade de conhecê-los e, daí, educá-los. Educar é responsabilidade diária, oriunda de convívio. É no dia a dia que se educa. Nos erros pra se acertar. E precisamos aproveitar as oportunidades para orientar nossos filhos. Todas.
Lembro uma vez que um dos meus filhos  me contou sobre um menino da escola que vinha sendo zoado por alguns colegas da turma. Me contou o caso num misto de pena com piada. A ele, apenas perguntei: o que você fez diante disso? Ele se calou. Não havia feito nada. O nada dele encarou o meu desapontamento. Nada?, perguntei. Em sua defesa, ele disse que não estava entre os que zoavam o garoto, por outro lado, admite ter rido de alguns comentários. Ao me contar o caso, meu menino busca a minha opinião – melhor, quer a minha orientação. Esperava por mim – sua mãe.
Pais precisam se posicionar diante dos filhos. Para que seus filhos, mesmo que não tenham a mesma opinião de seus pais, se posicionem na vida. E não sejam levados pelo bonde da maioria. Porque o bonde pode ser cruel. Tão mais cruel com pessoas com deficiência, aliás. Crianças com deficiência são, em geral, mais vulneráveis ao bullying real e ao virtual. Acabam sendo mais expostas a comentários jocosos e/ou maldosos que ganham apoio dos que nada falam, mas riem e gargalham.
Pode ser que leve meses ou anos para que esse meu filho se posicione contra uma maioria. Pode ser que demore a não rir de uma piada que ofenda sem querer um colega. Mas cabe a nós, pais, causar esse desconforto  – e não, nunca, jamais, rir junto da piada. Isso se aprende. E meu filho está aprendendo também.

 


*Texto originalmente publicado, em 1/11/2017, na coluna Incluir para crescer, do site da revista Crescer.

 

Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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