08 nov Aprendendo juntos e misturados!
Voltava outro dia da cidade para casa de metrô. Na estação da Cinelândia, entrou um menino, que devia ter uns 7 ou 8 anos. Estava acompanhado de uma moça que parecia ser sua mãe. Havia entre eles bastante intimidade. A cada estação em que parávamos, o menino soltava um grito. Aliás, vários. Ele gritava, mas ninguém conseguia entender o que dizia. Glória, Catete, Largo do Machado…
As pessoas se entreolhavam e percebia-se nitidamente que estavam incomodadas, sem saber direito o que fazer. Seria o caso de reclamar?
A mãe, meio sem graça, tentava, em vão, fazê-lo parar de gritar nas paradas. Flamengo, Botafogo… Aflita, ela chamou a atenção do menino para um folheto que, num passe de mágica, surgiu em suas mãos – parecia encarte de uma loja de departamentos. Foi uma intervenção carinhosa e surtiu o efeito por ela desejado. Ou melhor dizendo, o efeito “socialmente desejável”, pois voltou a reinar a paz.
Estavam ambos entretidos e o vagão prosseguiu por Copacabana em silêncio. Em Ipanema, eu saltei e, já na plataforma, consegui ver um aparelho acoplado na cabeça do menino logo acima de sua orelha. Isso confirmou o que suspeitava: o menino usava um implante coclear.
Eu só sabia do que se tratava, porque o meu trabalho me permite que eu conviva com pessoas com condições diversas e já tinha visto pessoas implantadas.
Se todo mundo soubesse o que é um implante coclear e como ele funciona …. ou, se tivesse ideia de como as crianças recém implantadas, que nunca ouviram o som de sua própria voz, podem se comportar … ou, se todos tivessem a oportunidade de conviver com surdos ou deficientes auditivos, provavelmente não teriam ficado tão constrangidas com a situação… Quem sabe, talvez, a reação de alguns tivesse sido menos julgadora e mais acolhedora?
E como as pessoas saberiam? Simples assim: convivendo com as diferenças cada vez mais, interagindo com pessoas com diversos tipos de deficiências. Mais simples ainda: vivendo no dia-a-dia junto e misturado.