Agora é oficial

Menino sorrindo, de pé em um brinquedo de madeira

Agora é oficial

Eu já vinha conversando com ele que os olhinhos dele eram pretos. E não verdes, castanhos ou azuis. Eram pretos, pois ele não tem as bolinhas coloridas, apenas as pretas. E que isso afetava a visão dele. Ele não estava muito satisfeito com isso, quando veio conversar comigo, curiosamente dentro da escola:
– Eu não queria que os meus olhos fossem pretos.
– Eu também não queria que meus olhos fossem castanhos – retruquei.
– Eu não queria que os meus olhos doessem no sol. Mas meus olhos só gostam da lua, mamãe.
– Bem, não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Os óculos escuros podem te ajudar. E você tem vários – disse eu com uma naturalidade forçada, porque a vontade era pegar no colo, dizer que o sol é um cretino por ferir seus olhos e que não se preocupasse que isso tudo vai passar.
– Eu queria que meus olhos fossem azuis.
– Posso te confessar uma coisa? Eu queria que os meus olhos fossem cor de rosa, como imagino que são os olhos das princesas de verdade. E também queriam que meus cabelos fossem lisos. Mas eu nasci desse jeito. Posso fazer uma escova de vez em quando ou botar uma sombra nos olhos… Mas, fora isso, não há muito o que fazer…
– Olho cor de rosa, mamãe. Isso ia ser engraçado!
E rimos disso. Ele, verdadeiramente. Eu, com um nó.
Dias se passaram, e a questão – da descoberta – veio parar em sala de aula. A então professora me pegou na saída e discretamente veio conversar comigo.
– Vítor já sabe que ele tem uma questão nos olhos, Fabiana? Tenho achado que ele vem agindo de forma estranha… Como vocês lidam com isso?
– Com naturalidade, sem dramas ou exageros. E, sim, ele sabe. Mas vamos perguntar para ele…
E perguntamos:
– Eu tenho aniridia – respondeu ele, apontando para os olhos com as duas mãos e seus 10 dedos. – Isso não é segredo.
Isso não é segredo. Isso não é segredo. Isso não é segredo. E, ora, ora, por que seria mesmo?
As melhores pessoinhas que comprovam que não é segredo são os colegas de classe. Tem aquele que quer ajudar o Vítor. Tem aquele que explica que o Vítor tem que sentar na frente porque “ele enxerga menos do que eu”. Tem aquele que vem correndo para lhe dar a mão. E tem aquele que lhe puxa o brinquedo ou lhe dá um safanão: “Afinal, amigão, somos ou não somos iguais?”.

Fabiana Ribeiro
fabiana.ribeiro@paratodos.net.br


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