Afinal, não é sempre assim?!

Afinal, não é sempre assim?!

Confesso. Eu gosto de novela. Sim, mesmo com a correria entre trabalho, casa e família, de vez em quando, arrumo um tempinho para ver novela. Mas as novelas que me atraem não são aquelas com tramas em torno de desvio de caráter, intrigas, traições e fofocas. Gosto de novelas com tramas policiais e, muitas vezes, com uma pitada de ficção. Atualmente estou assistindo a Alphas. Um seriado novelesco com trama policial e ficção, onde uma equipe de pessoas com super-habilidades combate o crime.
O que me levou a escrever sobre esta novela foi o personagem Gary Bell, um rapaz com super-habilidades que é um dos personagens da trama central. Gary é capaz de navegar na internet, redes de celular, visualizar redes de câmeras, tudo isso sem usar nenhum equipamento para interface. Ele visualiza as ondas eletromagnéticas no ar e as manipula através de movimentos repetitivos com suas mãos no vazio. Ele tem vários comportamentos estereotipados e repetitivos. Tem tendência compulsiva e ecolalia – ele tem autismo.
O seriado mostra várias facetas interessantes. Em especial para quem tem contato com alguma pessoa com deficiência. É interessante ver como, ao longo da série, a equipe de trabalho vai aprendendo a lidar com Gary, respeitar suas limitações, reconhecer suas habilidades e criar um vínculo afetivo bonito de se ver!
Afinal de contas, não é sempre assim?! Quando estamos inseridos em um grupo com o qual nos relacionamos com frequência não estamos continuamente aprendendo a reconhecer em cada um suas habilidades e dificuldades para que a produção e a relação do coletivo deem certo? Sejam produtivas, positivas?
Por que deveria ser diferente, se no grupo uma das pessoas tem deficiência e se comporta de uma maneira que os demais não esperam? Que foge ao padrão normatizado? Deveria ser apenas uma questão de tempo para que todos se conheçam e aprendam a lidar com o novo…
No meu entendimento, toda esta dificuldade e todo este rebuliço que acontece quando há uma pessoa com deficiência numa turma de escola ou no ambiente de trabalho só acontecem porque não temos, ainda, uma inclusão plena na escola. Se convivêssemos desde sempre com pessoas com deficiência, não nos surpreenderíamos tanto e nem apresentaríamos tanta resistência ao nos depararmos com esta situação.
Por isso a urgência. Por isso a necessidade de se tocar neste assunto, sempre. Porque todos têm o direito a pertencer. Somos todos diferentes em diferentes níveis. Simples assim.
A propósito o seriado trata exatamente disso: de como pessoas diferentes – neste caso com super-habilidades – são estigmatizadas pela sociedade. Assim como nas deficiências que existem de verdade, o seriado não nega os problemas reais que podem decorrer delas, mas mostra que o problema maior está na discriminação. No “eles diferentes” versus “nós normais”. É hora de mudar isso.

Carla Codeço
carla@paratodos.site.com.br


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