
13 nov A conta não é da inclusão
Não se engane. Não vai ser a inclusão que vai fazer com que a escola fiquei mais cara no ano que vem. Caso você não se lembre como isso funciona, a gente te ajuda. Todo ano acontece mais ou menos a mesma coisa. Lá para setembro, outubro, novembro, as escolas abrem o período de matrícula e rematrícula – muitas sem sequer avisar o valor da anuidade do ano seguinte. Acaba sendo um mistério que, nos últimos anos, trouxe reajustes acima da inflação. Veja o quadro abaixo com dados da inflação nacional e da variação do custo com educação para as famílias brasileiras:
2012 (%) |
2013 (%) |
2014 (%) |
2015 (%)* |
|
Inflação geral |
5,84 |
5,91 |
6,41 |
8,52 |
Educação |
7,78 |
7,94 |
8,45 |
8,76 |
Educação infantil |
11,12 |
9,12 |
11,95 |
10,54 |
Ensino Fundamental |
10,17 |
9,19 |
11,01 |
10,36 |
Ensino Médio |
10,25 |
9,42 |
10,47 |
10,32 |
*até outubro de 2015
Fonte: IPCA do IBGE
Na planilha do financeiro das escolas, são vários os itens que pesam na hora de calcular o valor final da mensalidade. Aumento de salários de seus funcionários — do faxineiro, passando pelo professor, até o diretor. Custos como o de energia elétrica (só no Rio, a conta de luz encarece mais de 50% somente neste ano). Outra bomba é a inadimplência nas escolas. Segundo o Serviço de Proteção ao Crédito, SPC Brasil, a inadimplência no pagamento de mensalidades de colégios e faculdades chegou a 19% este ano no país. Mais que dobrou, em relação aos 8% do ano anterior.
E a inclusão? Será que entra nessa conta? Certamente. Mas não tanto quanto se apregoa por aí. O custo da mediação – o grande calcanhar de Aquiles da inclusão – ainda não será integralmente assumido pelos colégios. As instituições de ensino que resolveram se adequar de forma viável à nova lei estão mexendo em sua própria equipe ou contratando minimamente, recorrendo inclusive a estagiários para dar conta dos alunos com necessidades de aprendizagem específicas. Não que as famílias estejam unanimamente contrárias à conduta. Muitas, em especial de famílias de maior renda, preferem manter os mediadores de forma exclusiva para seus filhos – condição que as escolas não têm como arcar da noite para o dia. Ah, sim, e tem escola que não está fazendo absolutamente nada. Resolveu deixar o diretor na reta, numa reta tão reta que pode levá-lo direto ao xilindró e, de quebra, ainda manchar o nome da escola. Então, se você vir uma criança com mediador na escola de seu filho, não se enfureça: esse profissional segue, na maioria da vezes, sendo pago pelos responsáveis da criança em questão.
Por outro lado, algumas escolas resolveram acomodar a chamada sala de recursos. Custo que, sim, está lá na planilha. Mas isso é investimento, da mesma forma que a quadra nova, os novos tablets ou a troca dos aparelhos de ar condicionado por Splits. E, por isso, você não chiou, né?
Muitos colégios já usaram a feia estratégia de justificar seus aumentos – abusivos, muitas vezes – nos seus alunos com deficiência. Cai como uma luva no colo de quem desconhece os gastos da escola. E não sabe que por lei a escola é obrigada a apresentar suas planilhas aos pais que as solicitarem. Na prática, a artimanha leva ao avesso da inclusão, colocando pais em lados opostos, gerando um clima de acusações veladas e abrindo mais um campo de batalha para as famílias que lutam pela inclusão. Tudo isso sem a escola reduzir sua margem de lucro e encarar a inclusão como um investimento que já deveria ter sido feito há muito, muito tempo.
Então, antes de cair no conto do vigário de que o reajuste de 2016 é culpa dos alunos de inclusão, solicite a tal planilha e procure saber se houve realmente mudanças drásticas na sua escola em relação ao aprendizado de alunos com alguma deficiência. Infelizmente, você verá que, na maioria dos casos, ainda não.♦