⁠⁠⁠Inclusão? Cadê?

Inclusão escolar.

⁠⁠⁠Inclusão? Cadê?

Hoje se fala muito em inclusão. Assunto da hora. Principalmente depois da aprovação da LBI (Lei Brasileira de Inclusão) e de todo o alvoroço que a implementação da lei causou nas escolas. Vemos reportagens, posts nas redes sociais, e o assunto como bandeira de marketing em algumas escolas. Mas será que esta inclusão existe de fato ou é apenas uma película que recobre a comunidade escolar? Olhando de cima ela tá lá, mas se mergulharmos, cadê?!

A convivência com outros alunos com deficiência hoje é muito comum. Estas crianças saíram das escolas especiais e estão lá, junto com todo mundo. Todos juntos e misturados, o que é ótimo. Mas, mesmo com toda esta convivência, as pessoas com deficiência acabam não fazendo parte de fato do cotidiano dos demais. São filtradas. Ficam retidas a uma convivência superficial. Filtrados pelos colegas de turma, filtrados pelos professores, filtrados pelos responsáveis dos alunos típicos e às vezes até mesmo pelos seus familiares. A convivência que existe é uma convivência cenográfica. Existe apenas no cenário escolar. O dia a dia das pessoas com deficiência e suas particularidades é tão distante da vivência da maioria que é mais fácil fingir que ela não está ali. Infelizmente, este assunto ainda incomoda e por isso fica invisível.
Como é possível que com tantos holofotes em como fazer a inclusão, em como se adaptar à LBI, na preparação da equipe pedagógica, etc e tal a cruel invisibilidade continue ali?! Presente todo santo dia? Quanto mais evidente é, mais difícil enxergar. Nas reuniões de turma de escola ainda não se fala sobre a mediação, apesar de os mediadores estarem inseridos dentro de sala no convívio direto com todos os alunos. É como se elas não existissem. Na reunião de pais ouve-se falar de como está o desenvolvimento escolar da turma mas você não reconhece seu filho em nenhuma frase de todo o discurso da professora. É como se ele não fizesse parte da turma. Ao pensar numa festa para os coleguinhas de escola dos filhos muitas famílias deixam de convidar as crianças com deficiência mesmo com a convivência diária. É como se não fizessem parte do grupo. Escolas que planejam excursões escolares e excluem os alunos com deficiência destes passeios. É como se não fossem alunos.

Quanto mais incomoda, mais invisível fica. Só quando estas pessoas forem vistas com respeito serão reconhecidos seus direitos e a convivência se dará de maneira verdadeira, com a formação dos devidos vínculos, de forma natural. Com o reconhecimento do outro como pessoa de direitos. É que a invisibilidade vai dar lugar à amizade, à confiança, à empatia.

Infelizmente, ainda hoje, os assuntos relativos àinclusão ainda são tratados de forma velada, envolvendo apenas os “interessados”. Mas peraí, não somos nós todos interessados neste assunto no final das contas?! Sim, porque mesmo que você não tenha alguma deficiência ou um parente próximo com deficiência, você mesmo tem suas particularidades, não é?  Pode ser um ritmo mais acelerado ou mais lento que seus colegas de trabalho,  pode ser alto o bastante para ter que abaixar para passar em determinados lugares ou largo o bastante para se sentir desconfortável numa cadeira de cinema, pode não enxergar um palmo adiante do seu nariz sem seus óculos de miopia.

É preciso falar abertamente sobre inclusão.  É preciso falar abertamente sobre as diferenças. Afinal, uma sociedade que acolha a todos é essencial. Precisamos parar de achar que ela já existe apenas porque seu filho tem um coleguinha com deficiência em sua turma. E precisamos construí-la já! Esta construção começa nos núcleos familiares e nas escolas. Só através da educação para a diversidade esta construção será possível. O que você está fazendo para que todos caibam no seu TODOS*?


(Frase final inspirada no livro “Quem cabe no seu todos?” de Claudia Werneck)
Carla Codeço
carla@paratodos.site.com.br


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